Quando o primeiro trailer da cinebiografia Judy foi lançado mundialmente na sexta-feira (10) passada, muitos se impressionaram com aquilo que ele exibia. O longa contará a história da estrela Judy Garland (de O Mágico de Oz) a partir do ano de 1968, quando chegou a Londres para uma série de apresentações. O filme é baseado na premiada produção teatral de Peter Quilter.
Judy chega com altas expectativas porque aparenta ser um retorno de Renée Zellweger a temporada de prêmios. Em plena era dos super-heróis do cinema (e é só esse tipo de produção que interessa aos grandes produtores americanos nos últimos anos aparentemente), Zellweger conseguiu um veículo endossado por um grande estúdio para exibir suas capacidades artísticas. Isso é muito para uma atriz que está na faixa dos 50 anos e que passou tanto tempo afastada dos holofotes. Junto com Judy, a vencedora do Oscar segue o caminho natural das atrizes de sua geração, apostando em séries e está prestes a ser vista em Dilema (What/If) da Netflix interpretando uma vilã. Assim, a vencedora do Oscar promete um comeback com dois desafios, duas personagens diferentes e inéditas em sua carreira.
Quando foi projetada para a fama internacional com Jerry Maguire: A Grande Virada em 1996, um clássico de Cameron Crowe, Renée Zellweger interpretava a “girl next door” que conquistava o coração do relações públicas do futebol americano interpretado por Tom Cruise. Zellweger dava vida a uma mãe solteira que hospedava Maguire em sua própria casa e o ajudava a sair de uma fossa profissional e pessoal.
Dorothy Boyd era uma doçura de personagem. Dedicada, digna e carismática a mocinha de Jerry Maguire conquistou o galã do filme e a indústria, que logo começou a testá-la numa diversidade maior de papéis a fim de assegurar que Zellweger teria força para encabeçar sozinha alguma produção. Bastou uma frase de Maguire a Dorothy num momento emblemático de Jerry Maguire para Renée Zellweger cativar em definitivo o coração das plateias: “Você me completa”.
Antes do filme de Cameron Crowe, a texana havia alternando participações discretas com a presença relativamente significativa em produções como Jovens, Loucos e Rebeldes, Caindo na Real, Um Amor e uma 45 e O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno. Após contracenar com Tom Cruise, Zellweger foi vista na comédia romântica Procura-se uma Noiva com Chris O’Donnell, no drama Um Preço Acima dos Rubis e Um Amor Verdadeiro, no qual Renée Zellweger interpretava a filha de Meryl Streep. Em Um Amor Verdadeiro, Streep foi indicada ao Oscar de melhor atriz por viver uma mulher com câncer em estágio avançado. Zellweger teve muito contato com a veterana na época pois interpretava a filha com quem a personagem tinha um relacionamento difícil.
O ano 2000 foi um ano importante para Renée. A atriz se firmou nas comédias com Eu, Eu Mesmo e Irene dos irmãos Peter e Bobby Farrelly, recém saídos do sucesso Quem Vai Ficar Com Mary?. Na produção, Zellweger interpretava a Irene do título, uma jovem em fuga e com um currículo complicado de relacionamentos com bandidos. Diferente de Dorothy Boyd de Jerry Maguire, Irene era uma personagem com mais malícia. Apesar do show ser todo de Jim Carrey, a atriz mostrou que timing para o gênero era um dos seus fortes e passou a ser sensível o toque de humor que Zellweger deu a suas personagens, mesmo quando enfrentam situações mais extremas dramaticamente.
Um dos filmes que mais ajudaram Zellweger a se construir como um nome bancável em Hollywood, sobretudo na temporada de premiações, foi a comédia A Enfermeira Betty, que levou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes e renderia a Renée seu primeiro Globo de Ouro de Melhor Atriz em comédia/musical. No filme, Zellweger interpretava uma garçonete sonhadora que era fã de um astro das telenovelas. Nas horas disponíveis, Betty sonhava que era uma das enfermeiras do Dr. David Ravell e vivia uma tórrida história de amor com o médico da ficção interpretado por Greg Kinnear. Era uma forma que ela encontrava de fugir da dura realidade que a cercava, um relacionamento abusivo e uma jornada de trabalho extenuante. Betty era a personificação da ingenuidade. Imersa numa trama policial, a inocente personagem de Zellweger driblava o perigo com seus sonhos. A Enfermeira Betty é um dos desempenhos mais notáveis da carreira da atriz.
Apesar do Globo de Ouro, Zellweger só conseguiu uma primeira indicação ao Oscar mesmo pela comédia inglesa O Diário de Bridget Jones de 2001. Informações sobre a adaptação do best-seller de Helen Fielding começaram a circular no final dos anos de 1990 e nomes ingleses como Kate Winslet e Rachel Weisz foram cogitados para o papel. A australiana Toni Collette foi a que esteve mais próxima de viver Bridget Jones nos cinemas, mas recusou pois tinha alguns compromissos na Broadway. O papel estava destinado mesmo era para uma texana que teve que engordar cerca de 25 quilos e aprendeu rapidamente o sotaque britânico para viver Bridget.
Inicialmente, o nome de Renée Zellweger foi rejeitado pelos fãs. No entanto, assim que as primeiras sessões da comédia ocorreram, todos conseguiram perceber que Zellweger trouxe para Bridget Jones as inseguranças comuns de pessoas de carne-e-osso. Jones tinha questões com o seu próprio corpo e com as imposições que a sociedade fazia sobre ele, era insegura com relacionamentos e ainda estava tentando se encontrar em sua carreira profissional. Era praticamente impossível não torcer por esta heroína. Isso garantiu o sucesso da personagem com o público por tantos anos e consolidou o nome da atriz como uma das preferidas de uma geração de cinéfilos.
Não perca na próxima semana a segunda parte do especial. Nele, abordaremos o Oscar de Zellweger por Chicago e sua pausa na carreira.