John Wick 4: Baba Yaga

Especial: Pontos Altos e Baixo de John Wick 4: Baba Yaga

A saga de John Wick (Keanu Reeves) chega ao seu quarto capítulo com John Wick 4: Baba Yaga, trazendo um desfecho para uma trajetória sanguinolenta de um protagonista que se tornou icônico. Como tudo começou? Com um cachorro assassinado e um homem em luta, com sede de vingança. Todavia, a partir deste ato inicial de revanche por seu pet, uma grande bola de neve que foi se criando ao redor de John, que já não tinha mais lugar para onde ir.

Em um colapso total e sendo perseguido globalmente, não havia saída alguma para John a não ser tentar encerrar de vez estas lutas intermináveis. Para tal intento, ele se envolve em…er…mais lutas! Entre absurdos de explosões, combates e o corpo de um homem quase indestrutível, o novo longa-metragem da franquia tenta impactar, mas não consegue manter a qualidade dos filmes anteriores.

Ainda assim, a produção garante bons momentos e elementos positivos dentro deste universo inconsequente de John Wick. A questão da verossimilhança já foi abandonada há muito tempo pela obra. Por isso, o espectador não pode aguardar encontrar alguma lógica sensata durante a sessão. A dinâmica aqui é muito singular, uma dinâmica “Wickiana”, que convoca um Keanu Reeves quase semi-deus, algo que o ator já é acostumado em fazer, inclusive. Mas, é neste jogo de acertos e erros que o Coisa de Cinéfilo traz uma lista com os pontos altos e baixos de John Wick 4: Baba Yaga

Confira!

John Wick 4: Baba Yaga

Pontos Altos

  1. Direção das sequências de ação: A maior parte da duração do quarto capítulo de John Wick contém sequências extensas de lutas. Este fator poderia criar uma atmosfera enfadonha e repetitiva, mas é na direção de Chad Stahelsk (De Volta ao Jogo) e na edição de Nathan Orloff que esta junção de cenas se torna uma experiência divertida. Através da mise-en-scène, dos cortes e planos bem elaborados, é possível acompanhar detalhes dos embates, que mesclam tensão e comicidade. Em termos de decupagem, um momento de destaque é a batalha no hotel de Shimazu (Hiroyuki Sanada), principalmente no embate de John e Caine (Donnie Yen). Entre luzes, tiros e corpos arremessados, a suspensão é progressiva, mas ainda dá tempo de realizar um desenvolvimento das duas personagens, mostrando a dinâmica da relação dos dois amigos que, agora, precisam tentar matar um ao outro.
  2. A relação entre mitificação e desmistificação do protagonista: John Wick é quase um semideus nesta franquia. Entre tiros, quedas de 220 degraus e muita porrada, há um estabelecimento de Wick como uma figura de herói (ou anti-herói), com direito até a um terno, que parece realmente um traje de super-herói. Neste quarto capítulo, o que acontece com o corpo de John é sobre-humano, como na sequência do Arco do Triunfo, na qual ele é atropelado por diversos carros ou quando ele cai do terceiro andar, em cima de uma van. Ao mesmo tempo, existe uma consciência da mortalidade da personagem e os riscos que assumidos por ele. A forma como a sobrevivência de John Wick não é garantida é um dos pontos altos da produção porque, caso este elemento não existisse, não seria possível construir tensão alguma e os espectadores teriam certeza de que Wick é indestrutível. Criar este paralelo, ainda que através de um protagonista implacável, é uma missão dura, mas bem realizada neste quarto filme.
  3. A utilização da geografia das cidades: A forma como o roteiro faz uma conexão entre a trajetória física e os conflitos vivenciados por John Wick é eficaz e amarrada. Existem diversos filmes de ação que inserem localidades múltiplas – como Alerta Vermelho ou Eternos, ambos de 2021. Todavia, a sensação que estas obras passam é de que a ida para vários países acontece apenas para impressionar, com grandes planos de estabelecimento e quadros de pontos turísticos. Em John Wick 4 é bem verdade que isto acontece – inclusive, alguns establishing shots são exaustivos. No entanto, ao mesmo tempo que existe este desejo de aumentar a potência de grandiosidade da produção, aqui isto é feito também à serviço da narrativa. A maneira como Paris é explorada, por exemplo, fomenta a tensão com a trama, porque Wick precisa sair da Torre Eiffel e chegar na Sacré-Coeur vivo, fazendo com que cada espaço do caminho seja utilizado com eficácia. E tudo isso dentro da própria lógica cotidiana da cidade – mesmo que seja na parte turística da cidade. Então, por exemplo, o caos dos carros no Arco do Triunfo entra na ação e na pancadaria de Wick ou os 220 degraus para chegar até a Sacré-Coeur também. 

John Wick 4: Baba Yaga

Pontos Baixos

  1. A presença mais escassa de Wick: Por algum motivo, o longa demora para trazer mais cenas de luta com John. Provavelmente, a maior parte da plateia sentará na sala de cinema para ver Keanu Reeves imbatível e quase imortal, na pele de John Wick. Todavia, o filme gasta tempo demais mostrando brigas sem Wick ou em relacionamentos que não vão fazer muita diferença para a trama no geral. Um exemplo é a relação de John com Shimazu e sua filha Akira (Rina Sawayama), que é abandonada no primeiro ato e gradativamente esquecida. Contudo, mesmo não sendo essencial para o enredo, o espectador acompanha, por uma duração considerável da sessão, sequências de luta de Shimazu e Akira  com outras pessoas. Incluindo, uma grande tensão que se estabelece entre Akira e Caine. Quando Wick inicia, de fato, os seus trabalhos, a obra já está em seu segundo ato. Desta maneira, já que o objetivo aqui é acompanhar pancadaria e tiros por quase 3 horas seguidas, que fossem todas elas com o tão amado Baba Yaga e não o contrário!
  2. O trabalho de corpo dos atores: Apesar da produção contar com atores experientes, principalmente no que se referem aos filmes de ação (Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Donnie Yen etc), alguns coadjuvantes e membros do elenco de apoio trazem uma composição exagerada, que foge da organicidade. Por esta razão, em diversas sequências de luta, principalmente as que ocorrem na primeira parte do longa, contam com intérpretes que parecem bonecos de um videogame – sabe quando alguém está montando um avatar para usar durante o jogo e esse avatar se move de uma maneira muito específica, enquanto as opções são trocadas? Com isso, estes corpos com movimentações artificiais acabam por interferir na fruição da obra como um todo, porque, ainda que esta seja uma produção completamente cheia de absurdos, existe o pacto com o espectador. Assim, é compreensível que Keanu Reeves vai ser arremessado de milhares de degraus e sobreviver, mas ele vai fazer isso com a corporeidade esperada. O maior equívoco de alguns artistas do longa é querer mostrar que estão performando uma luta. Quando um ator quer mostrar algo, ele irá alcançar um resultado totalmente reverso. Uma boa comparação para perceber a diferença desta construção física é entre Rina Sawayama e o próprio Reeves. O manuseio de Keanu das armas, como ele corre e usa o tônus do corpo à favor da personagem é orgâncio e crível dentro daquele contexto. Já Rina faz justamente o oposto.
  3. Aproveitamento do plot e da personagem central: Entre sacadas de pistolas, socos e atropelamentos, falta para o roteiro olhar para o John Wick verdadeiramente. Ainda que esta seja uma produção voltada para a pancadaria, quase toda a construção da personalidade de Wick é deixada de lado. Ele é um homem cheio de contradições, desequilíbrios morais e impulsos. Mas, neste quarto capítulo são poucos os momentos em que o espectador se conecta com ele ou sabe quais são seus pensamentos e sentimentos. De uma maneira geral, John acaba se tornando um coadjuvante de sua própria história, uma figura principal e cheia de carisma, que é escanteada. E está é a razão principal para que John Wick 4: Baba Yaga desta franquia chegue tão morno e sem a qualidade dos anteriores.