Um idoso viúvo rabugento acabou de ser demitido do seu trabalho. Desiludido e cansado da vida, ele deseja se suicidar. Apesar de se esforçar bastante para realizar tal intento, suas tentativas são todas interrompidas por uma família alegre e barulhenta, que acabou de se mudar para sua rua. Nas experiências “quase morte” de Ove (Rolf Lassgård) são mostrados trechos do passado do protagonista, revelando, durante a projeção, a sua jornada.
Dirigido e roteirizado pelo sueco Hannes Holm (Família Andersson na Grécia), que tem trabalhos anteriores mais focados na comédia, o longa está indicado ao Oscar deste ano, na categoria Melhor Filme Estrangeiro. A narrativa se inicia melancólico e profundo, com um olhar sensível para com a realidade dos idosos, que ao chegar numa idade mais avançada se vê repleto de memórias e solidão. Inicialmente, o espectador se sente instigado em conhecer o personagem principal e as suas dores e perdas.
Apesar dos primeiros trinta minutos serem intensos, por ficar pairando a dúvida se o protagonista conseguirá alcançar seu objetivo primevo ou se adaptar a nova realidade para ele imposta pelo destino, o enredo começa a se perder justamente na parte em que Holm deveria concretizar melhor: a leveza. Nos momentos de contentamento ou graça dentro do longa, Um Homem Chamado Ove cai nos clichês mais hollywoodianos possíveis.
Algumas das fórmulas à la USA são: a melhora de ânimo do “rabugento” por ter companhias mais jovens, o senhor estressado se inserido no cotidiano da família recém-formada e atrapalhada, as frases estressadas do senhor que são relembradas pelas crianças, os ensinamentos que ficam para o futuro mostrados em uma cena expositiva, como a que encerra o filme.
Outro fator que incomoda nos diálogos e ações é a falta de assertividade em definir, em alguns momentos, o que é, de fato, triste e o que é para ser celebrado. O espectador começa a traçar uma ideia do que está por vir e numa sequência a sensação se esvai, até que se forme uma nova perspectiva que não irá demorar a ser desconstruída. Este fator causa uma frustração e um tédio no público, pois essa falta de uma possível coragem de arriscar um caminho quebra o ritmo da exibição, não define as características centrais da trama e deixa apenas repetições em forma de cenas.
A fotografia segue a mesma lógica do roteiro. A iluminação, cores e a maioria dos planos são os mesmos durante o filme. Apesar do tom branco e azul que contrastam com a personalidade explosiva do protagonista, nada muda quando a narrativa se desenvolve e algumas mudanças acontecem. A única exceção é o passado de Ove. Nele são vistas outras tonalidades, planos mais gerais e closes.
Contudo, Lassgård sustenta “seu” Ove com qualidade durante toda a projeção. Apesar das repetições de situações e de humor da personagem, o ator a construiu com complexidade, pensando no ritmo de fala, nas respirações profundas e nos olhares que Ove direciona lentamente como quem faz um Raio-X nas pessoas. Esses elementos são mantidos até a última cena que ele está presente.
Um Homem Chamado Ove vale pelos seus minutos iniciais até sua metade e pela interpretação de Rolf Lassgård. Afora isso, ele poderia muito bem estar presente numa exibição vespertina de canais abertos, se o mesmo fosse produzindo nos Estados Unidos e/ou possuísse algum ator/atriz mais popular.
Assista ao trailer!