O prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tem o costume de deixar dúvidas em algumas de suas principais categorias. Na 90º edição, entretanto, o tão estimado prêmio de “Melhor Direção” parece ser algo certo. Dentre as diversas performances interessantes do ano de 2018, a que tem um destaque maior pelo conjunto da obra entregue ao público foi feita pelo gênio mexicano Guillermo Del Toro. Dos seus colegas nomeados, aquele cujo mais se aproxima de sua qualidade no projeto recente é Jordan Peele, diretor de Corra!. Apesar de suas grandiosas e importantes apresentações em seus respectivos trabalhos, Greta Gerwig, Christopher Nolan e Paul Thomas Anderson não representam uma forte ameaça a vitória do mexicano. Peele poderá ser a única “surpresa” da noite quanto aos diretores indicados.
O olhar usado pela Academia para escolher seus vencedores é algo subjetivo e situacional, fazendo com que a missão de criar um padrão para estudo ou previsões 100% certas seja quase impossível. Às vezes surpreendente, outras, nem tanto, mas sempre é um dos momentos-chave da belíssima cerimônia. E nessa edição de aniversário, nada será diferente. Os indicados se encaixam em diversas opções de acontecimentos anteriores cujo levaram outros artistas a conquistarem a estatueta. Existe a revelação que surpreende com simplicidade e inteligência, mas falta maturidade temática; tem o mestre da técnica que usa a beleza para mascarar uma obra que falta no conteúdo; e há o diretor prestigiado, porém, estéril. Esses são os indicados cuja probabilidade de ganhar nas atuais circunstancias é menor. Já os dois que disputam a estatueta são duas outras adaptações de outros eventos anteriores: como o diretor que saiu da zona de conforto e impressionou a todos e o estrangeiro que teve o mundo e todo o preconceito tendo que reconhecer o seu brilhantismo.
Com toda a sua pompa e circunstância, Christopher Nolan chega ao Oscar carregando o seu novo filho, mas com muito cuidado porque ele é bem frágil. Sua falta de força e liga não são suficientes para contornar as faltas que existem e, muito menos, para serem compensadas apenas com uma beleza técnica admirável. O trabalho de direção de Dunkirk deixa mais a desejar do que em qualquer uma de suas obras. A falta de sentimentalidade em suas películas finalmente afetou o cineasta. E a queda desse gigante será estrondosa e tão agoniante como a falta de sensibilidade na obra sobre a Operação Dínamo.
Paul Thomas Anderson traz um problema diferente. Seus filmes costumam impactar, emocionar e levar o público a loucura com sua perfeição técnica e olhar delicado sobre o mundo. Com trabalhos comumente conhecidos por sua estética diferenciada, Trama Fantasma se destaca da mesma forma no quesito design e figurino, uma pena que a narrativa deixe a desejar. E por se tratar de um diretor cujo também roteiriza suas obras, a coesão textual e da imagem são quesitos fortemente cobrados pela Academia. O inovador Paul Thomas pode estar consagrado no meio da sétima arte com filmes como Magnólia, de1999, e Sangue Negro, de 2007, mas o indicado desse ano falta uma consistência nos fatos que faça jus a sua carreira, tornando-se incompleto. Paul muito se preocupou com a forma do seu croqui e esqueceu do conteúdo dele.
A estreia de Greta Gerwig foi perfeita. A temática e a simplicidade de seu primeiro longa-metragem como roteirista e diretora fizeram com que ela pudesse encontrar a sua estrada de tijolos amarelos. Com modéstia e talento, Greta prova que sua capacidade vai muito além do que pessoas podem imaginar; ela é o que ela quiser. Com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça – como já disse o sábio Glauber Rocha – ela é capaz de alçar grandes voos. Lady Bird – A Hora de Voar não é, entretanto, o trabalho que lhe renderá o seu primeiro Oscar por direção; Gerwig precisa de uma proposta mais madura para mostrar tudo o que ela é capaz. O seu espaço vai apenas crescer agora que o mundo já viu do que ela é capaz e, num futuro próximo, ler o nome de mulheres na disputa por prêmios como o de “Melhor Direção” será algo do cotidiano. Greta Gerwig: um nome para ser gravado.
Jordan Peele se mostrou um caso à parte dos demais citados. Corra!, obra dirigida, roteirizada e produzida por Peele se mostrou um trabalho maduro – em especial para alguém que está estreando como diretor. Além do debute à frente de uma película, Jordan também entra num universo completamente diferente do seu. Conhecido por seus trabalhos no Comedy Central, o diretor toma para si o comando de um projeto onde o foco é um terror. Com um roteiro invejável, a trama tem fluidez e qualidade para prender o espectador do início ao fim. E, no final das contas, Jordan Peele não seria uma má escolha da academia para premiar.
Guillermo Del Toro é o mestre das fábulas sombrias. O homem que reinventou o universo da ficção fantástica é o candidato mais forte na disputa pelo Oscar de “Melhor Direção” de 2018. Com seu romance que percorre todos os gêneros da sétima arte, A Forma da Água é uma perspectiva encantadora e irreal sobre a vida e todas as opressões que as pessoas sofrem. Por fazer uma ode aos humilhados, nada mais justo do que sua indicação viesse seguida de uma vitória bela e merecedora. Há cerca de 15 anos que o mundo cinematográfico tem contato com a magia e beleza de suas criaturas e lugares. Del Toro criou seu nome há muito e já está mais do que na hora de tê-lo sendo ovacionado por algo conservador como o Oscar. Anunciar que ele é o diretor campeão no Academy Awards é uma forma de reafirmar a mensagem que o seu roteiro passa: não importa como você seja ou se pareça, você será agraciado como merece. O momento de exaltação chegou para este homem que é um mexicano cuja história é uma inspiração para todos os que sofrem um preconceito ou queiram desistir de seus sonhos. Guillermo del Toro e seu longa são a prova viva de que onde há amor e fantasia, tudo é possível.
Nomes que não foram nem citados, como o de Joe Wright por O Destino de Uma Nação ou Martin McDonagh pelo maravilhoso Três anúncios para um crime, são sentidos nessa categoria. Até mesmo o gênio Spielberg e seu belo filme jornalístico (The Post – A Guerra Secreta) ficou de fora dessa corrida pelo ouro. Contudo, por mais que esses nomes façam falta, há uma nuvem de aceitação quanto os indicados. Com ou sem defeitos; perfeitas ou não, as direções das películas foram bem ricas. Por essas e outras ‘n’ questões, o óbvio pode vir a não acontecer. A imprevisão e as surpresas estão sempre presentes nas últimas edições dessa premiação e esse ano podem estar ainda mais. Como dito anteriormente, nada é 100% certeza quando se trata da Academia, agora o que resta é esperar até o dia 4 de março para que o mundo saiba o resultado desse glorioso embate.