15ª CineOP

Especial: Curtas da 15ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto

De 03 a 07 de setembro aconteceu a 15ª CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto). Com exibições de curtas e longas-metragens brasileiros e internacionais, a Mostra trouxe todo seu conteúdo de maneira remota, através de seu próprio site. O evento que tem o foco na “preservação, história e educação audiovisual brasileiro” também apresentou lives com debates sobre o cinema e shows musicais. A Televisão foi centro da discussão na Temática Histórica, tendo como filme de abertura da CineOP a obra Avesso Festa Baile, de Tadeu Jungle.

Dentro da semana de programação da CineOP, o Coisa de Cinéfilo conseguiu acompanhar algumas projeções. Separamos aqui um especial com os curtas assistidos no festival. Confira!

Extratos, Coisa de CinéfiloExtratos (2019)

“Será que vou chegar a algum lugar?” A pergunta é feita por Helena Ignez e é uma indagação que ela fazia para si mesma, em sua juventude. O público descobre esta e outras angústias e memórias de Ignez neste curta-metragem, que reúne imagens feitas pela artista juntamente com Rogério Sganzerla, no período em que eles estavam em exílio, na Ditadura Militar, entre 1970 e 1972. Em imagens de locais como Marrakesh, Salvador e Londres, os cortes ditam as rupturas que parecem ter sido sentidas pelas personagens. As emoções e sensações são narradas por Ignez e possuem um tom que revela a profundidade das emoções vividas no passado. Este é também um mérito da direção de Sinai Sganzerla (A Mulher de Luz Própria), que montou o curta ao lado de Claudio Tammela (Elogio da Graça). Nesta junção de elementos intensos, a obra consegue revelar diversas camadas e deixa quem assiste imerso naquele universo de recordações. Tudo isto em apenas 7 minutos de duração.

Tem Um Monstro na Loja, Coisa de Cinéfilo

Tem Um Monstro na Loja (2019)

Os desenhos de Ana Galocha já existiam antes deste curta-metragem. Inclusive, há um perfil no Youtube que publica vídeos de, aproximadamente, um minuto com várias animações de aventuras da menina. A intenção aparente é ser um conteúdo educativo para crianças, através de tramas sobre Ana e seus amigos. Na produção exibida na CineOP, o enredo foca em contar a história das carrancas, através do encontro da garota com o objeto dentro de uma loja. A narrativa é redonda e bem amarrada, pois consegue introduzir bem o contexto da pequena cidade ficcional e da protagonista, ambientando o espectador em poucos minutos. Além disso, a inserção do conflito e a apresentação do desenlace acontecem de maneira orgânica, tendo eles uma ligação com a personalidade de Ana e com o local onde ela mora. Há uma queda, porém, na qualidade da obra próximo de seu desfecho. Depois que Ana já entendeu tudo sobre aquela figura que lhe causou pânico e como ela é importante para a cultura, vem a explicação disto para as outras crianças. Em seguida, fica uma sensação de dilatação do tempo até que a chegada do desfecho. Outro incômodo é a voz que narra o filme. Há apenas uma pessoa que dubla a narração e todas as personagens. Isto não é um demérito, mas a intérprete poderia colorir mais o texto e criar vozes mais diferentes uma das outras. A coisa monocórdica acaba tirando um pouco da personalidade das personagens. Mas, no geral, é uma sessão leve e educativa para o público infantil, como parece ser o seu objetivo.

Relatos Tecnopobres, Coisa de Cinéfilo

Relatos Tecnopobres (2019)

Evocando tensões políticas contemporâneas, Relatos Tecnopobres se vale de uma distopia para criar a sua argumentação. Em 2035, numa sociedade dominada pelos militares, os investimentos financeiros vão todos para inovações tecnológicas, revoltando o povo, que passa a entrar em conflito direto com as autoridades. O diretor, João Batista Silva, consegue colocar o espectador imerso no universo dos guerrilheiros, buscando mostrar a luta deles e como foram as opressões sentidas pelo grupo, até que a guerra fosse a única saída. No geral, há poucos movimentos de câmera, mas, talvez isto ajude a causar certa angústia em alguns planos mais fechados, quando o espectador ouve os relatos do protagonista. Em alguns momentos, é possível ver algumas imagens de cobertura, com uma floresta e as personagens caminhando por ela. Estes detalhes fazem com que a sensação de um mundo em clima bélico se estabeleça, ainda que o valor de produção não seja tão alto. Outro recurso usado por Silva é a utilização de filmagens de outras pessoas, de situações da vida. Nos créditos aparece uma cartela avisando que a equipe não sabe quem são os donos das gravações utilizadas durante o curta. Esta escolha do cineasta faz sentido dentro do enredo, pois ilustra situações que o orçamento talvez não permitisse. Mas, ao mesmo tempo, gera alguns incômodos, principalmente quando se reconhece os eventos que aparecem nos vídeos. Isto desconecta um pouco quem assiste da história que está sendo contada. Outro fator um tanto negativo é que nunca se vê o rosto do protagonista, o que afasta um pouco o público, que não consegue criar totalmente uma empatia com ele.

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