Desde o dia 31 de março, o longa-metragem A Despedida está disponível nas plataformas digitais Now, iTunes, Google Play, Youtube Filmes, Vivo Play e Sky Play. No elenco, nomes renomados de Hollywood, como Susan Sarandon (Lado a Lado), Kate Winslet (Ammonite) e Sam Neill (O Passageiro) chamam atenção para esta produção, que é um remake da versão dinamarquesa da obra, chamada Silent Heart. Com altos e baixos qualitativos, possuindo momentos tocantes e profundos, mas com uma ausência de trato no roteiro para medir a intensidade dramática, o filme acaba se perdendo pelo esforço exagerado em emocionar a plateia.
Entre erros e acertos, uma atuação se destaca dentro deste contexto irregular. Revelando uma construção diferente de outros trabalhos seus, Kate Winslet consegue imprimir múltiplas emoções em sua Jennifer, através de gestos contidos e uma interpretação bastante naturalista. Os traços costumeiros da atriz, como respirações fortes, titubeações e uma tonalidade mais enérgica, somem para ela trazer uma mulher direta, firme, controladora e sem paciência.
Pensando nesta capacidade de Winslet de pensar suas personagens nos detalhes, movimentando-se em cena com destreza e colorindo o texto com consciência de cada intenção, o Coisa de Cinéfilo montou um especial Kate Winslet para vocês. Confira!
5 – Dra. Erin Mears (Contágio, 2011):
Atuando como uma focada e sagaz epidemiologista, Winslet constrói aqui uma personagem que, mesmo com uma quantidade reduzida de cenas, pode se tornar forte na memória do espectador. Através da combinação de textos ditos de forma veloz e um corpo pesado, a intérprete mescla esta combinação de dinâmica e imprime uma personagem que, além de trazer toda esta postura física do imaginário do que é uma profissional de saúde, evoca também sensibilidade e fragilidade. Através de suas escolhas para a cena, Winslet rouba a atenção nas sequências nas quais participa e, por esta razão, a sua Dra Erin ocupa a quinta posição! Onde assistir: Globoplay
4 – Clementine Kruczynski (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, 2004):
Algo perceptível na carreira de Kate Winslet, até o início dos anos 2000, era a sua capacidade de encarnar personagens de sentimentos profundos, com melancolia e que viviam situações pesadas. Em 2004, com a estreia de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, foi possível ver a atriz experienciando uma construção na qual as complexidades eram um pouco menos externas e mais leves. Ainda que a história em si ofereça momentos de tristeza, separação e dor, neste longa, vê-se uma Winslet que trabalha com movimentações mais sutis, expressões faciais que soam corriqueiras e que emprega uma leveza corporal utilizada pela atriz, justamente para imprimir este tom mais jovial e descolado de Clementine. Este é um papel que a fez experimentar outros registros vocais e de corpo, ampliando o seu repertório e revelando uma espécie de versatilidade que dava algum sinal ali. Onde assistir: Telecine.
3 – Bitsey Bloom (A Vida de David Gale, 2003):
Pouco se havia visto de Kate Winslet em papéis contemporâneos. Com uma maioria de produções de época, principalmente as cinematográficas, A Vida de David Gale foi uma oportunidade de ver a intérprete construindo uma personagem mais atual. É notável a consciência de Winslet sobre a força e a vida pregressa de Bitsey: uma jornalista corajosa e perspicaz. Para revelar estes traços de Bitsey, a estratégia utilizada por Winslet aqui é deixar transparecer os seus fluxos de pensamento, através da escolha cuidadosa de pausas e acelerações textuais. As suas respirações também são calculadas, algo que aumenta a dinâmica de tensão das sequências.
2 – Marianne Dashwood (Razão e Sensibilidade, 1995):
Esta é uma interpretação bem clássica de Kate Winslet!!! Aqui, vê-se traços costumeiros de sua interpretação: respirações e silêncios calculados, os deslocamentos indecisos, as titubeações. Estes elementos fixos na atriz não são colocados neste texto como qualitativos ou não. O que vale em seu trabalho é, muitas vezes, descobrir como ela utilizará as suas ferramentas, se ela estará em sua chave ou não e como irá avançar em relação aos outros papéis. Contudo, em 1995, todas as suas marcas já estavam ali, mas chamam atenção, pois Winslet evoca, dentro de suas escolhas, características únicas de Marianne. A ingenuidade, sensibilidade e arroubos juvenis de Marianne Dashwood são colocadas na maneira como ela canta, se movimenta e observa o mundo ao seu redor. Kate é atenta aos detalhes e aos gestos contidos e/ou incompletos – mas, sem serem sujos. Assim, ela consegue fazer microexpressões faciais que revelam a capacidade de Marianne de sentir tudo intensamente. Onde assistir: HBO Go.
1 – Rose Dewitt Bukater (Titanic, 1997):
Titanic é um clássico do cinema mundial. Possuindo uma bilheteria de mais de 2 bilhões de dólares, somente nos Estados Unidos, o casal ficcional Rose (Winslet) e Jack (Leonardo DiCaprio) conquistou o público. Contudo, a presença de Rose na primeira posição da lista se dá muito mais pela performance de Kate Winslet em si do que a própria memória e/ou afeto para com a obra. Rose Dewitt Bukater é um papel que traz consigo organicidade e transformações progressivas. É possível perceber como a compreensão que Rose apresenta de si mesma e da sociedade caminha para uma maturação durante a projeção. Winslet tem consciência de quem é Rose, onde ela está e para onde vai e imprime todos os traços que acredita necessários para realizar esta construção. Em seu trabalho de corpo é notável um desmontar de uma postura encenada, que não era intrínseco a Rose, mas que lhe fora imposto. Aos poucos, o tônus do seu corpo vai para outros lugares, como braços, por exemplo. As ansiedades de Bukater também são perceptíveis, a partir das velocidades colocadas em seus olhares. Os seus olhos estão sempre em movimento e, por isso, quando ela fixa seu olhar em algo, esta ação se sobressai. Desta maneira, em muitos detalhes, Winslet trouxe não apenas algo sólido, mas icônico em diversos sentidos. Onde assistir: Telecine