A partir de suas memórias, o diretor e roteirista Mike Mills (o mesmo de Toda Forma de Amor, longa que rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante a Christopher Plummer em 2012) concebeu Mulheres do Século 20, longa que narra a jornada de um adolescente californiano criado por uma mãe solteira na década de 1970 e que ainda é influenciado por duas outras mulheres na sua caminhada para a vida adulta, uma fotógrafa mergulhada na cultura punk e uma jovem da sua idade que escapa esporadicamente da família opressora para conversar com o menino escondida em um dos quartos da sua casa. O longa que recebeu uma indicação ao Oscar de 2017 como melhor roteiro original (e deveria ter recebido mais indicações!) já está disponível no catálogo da Netflix desde o início do ano.
Dorothea, a mãe do adolescente em questão de Mulheres do Século 20, é interpretada por Annette Bening em mais uma interpretação memorável da sua carreira, esquecida na seleção de atrizes da época do Oscar que consagrou Emma Stone pelo seu desempenho em La La Land. Ao narrar a influência dessas três mulheres pertencentes a três distintas gerações na vida do protagonista em uma época de revolução de costumes, os anos de 1970, Mills nos traz um contexto histórico de transformações e afirmação do feminismo, mas também uma outra percepção que se configurava na sociedade a respeito da criação dos homens.
O filme é pontual ao colocar essas questões permeando a dinâmica entre os personagens e os conflitos do seu protagonista com sua mãe Dorothea, uma mulher com ideias ainda cristalizadas do passado, com um certo conservadorismo a respeito do feminino, mas que inconscientemente acaba semeando a revolução que as outras duas personagens femininas da história empreendem, as igualmente impecáveis Greta Gerwig (a fotógrafa Abbie) e Elle Fanning (a adolescente Julie, crush do rapaz).
Ao longo de Mulheres do Século 20 alguns pontos de tensão são abordados como o desprendimento gradual na discussão franca sobre temas que até então era tabus para o feminino. O filme acaba dimensionando esse ponto de virada na década de 1970 que trouxe como consequência o gradual amadurecimento do feminismo nos anos seguintes e também uma outra percepção sobre o masculino com a geração de rapazes filhos de mães solteiras que viria nas décadas seguintes quebrar estigmas associados ao homem como a resistência a qualquer demonstração pública de afeto e a alienação a respeito da sexualidade feminina. Mills faz tudo isso com muita leveza arrancando dos seus atores boas interpretações em um roteiro inteligente e sensível.
Direção: Mike Mills
Elenco: Annette Bening, Greta Gerwig, Elle Fanning, Lucas Jade Zumann, Billy Crudup, Thea Gill, Waleed Zuaiter
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