Crítica (XIII Panorama): La Manuela

Com dois anos de imagens capturadas em mãos, a diretora Clara Linhart (Gabriel e a Montanha) narra, em seu primeiro longa-metragem solo, a trajetória de Manuela Picq, sua melhor amiga de infância. O documentário mostra os conflitos, soluções e questionamentos da protagonista. O start para a história é a sua prisão em uma manifestação, em 2015, no Equador. Jornalista e professora franco-brasileira, Picq tem seu visto apreendido e é exilada do país no qual morou por dez anos e construiu uma vida inteira.

Após o final da projeção é possível notar que a grande problemática para a personagem principal é a busca por um novo lar, após a perda da residência no lugar no qual ela finalmente encontrou-se, o Equador, ela procura sentir-se plena novamente em diversas regiões do mundo, enquanto vai tentando manter a fé de que um dia retornará para a terra que tanto ama e para seu companheiro, Carlos Pérez.

Apesar desta resposta chegar com o desfecho da exibição, os caminhos da narrativa parecem truncados, dando a impressão de uma confusão sobre qual a temática principal da história. No início, o espectador se depara com o contexto social e político equatoriano e sobre a luta dos indígenas do país. Em seguida, fica a sensação que o objetivo da obra é falar sobre o amor de Carlos e Manuela e o que o casal representa para o imaginário do Equador. Porém, é a partir da segunda metade do filme que fica mais claro que a humanização e a aproximação com a personalidade da protagonista serão o foco principal da trama.

A escolha de misturar tipos de capturas de imagem, juntamente com fotos de arquivo e chamadas por Skype fortalecem o contato do público com uma Manuela que vai além da ideia de heroína que ficou construída na época na qual ocorreu o seu encarceramento. A leveza e o espírito aventureiro da protagonista são mesclados com seus momentos de melancolia e solidão, trazendo toda a complexidade de uma mulher, indo além do retrato de uma figura pública.

Para fortalecer as distintas emoções da personagem, Linhart equilibra bem o ritmo da projeção, deixando planos mais longos nos momentos de tristeza ou angústia de Manuela e aumentando a quantidade de quadros nas horas de expectativa ou euforia da mesma. Outra escolha que traduz muito da personalidade e dos sentimentos da protagonista são os enquadramentos que a mostram caminhando de costas, distanciando-se da câmera, mostrando seu caráter nômade pós-exílio e o isolamento do cotidiano que lhe era tão caro.

La Manuela consegue expor as nuances, necessidades e complexidades da personagem principal. Porém, a sua indecisão narrativa permite que a força do longa se dissipe, enfraquecendo o poder da sua história e o foco do espectador. Ainda assim, Clara Linhart consegue demonstrar a sensibilidade do seu olhar diante de uma protagonista de personalidade firme e cheia de camadas, deixando-as claras para quem assiste ao filme.