Assim que o envolvimento do nome de Duncan Jones na adaptação cinematográfica de Warcraft teve início o que mais era lido nos principais veículos especializados era que o realizador não estava fazendo um filme protocolar de estúdio, mas sim um projeto extremamente autoral temperado pela sua paixão por aquele universo fantástico do game da Blizzard. As suspeitas sobre os riscos do projeto não eram descabidas tendo em vista que costuma ser uma prática muito recorrente dos grandes estúdios a cooptação mal-sucedida de promessas criativas como Duncan Jones, que antes desse título havia feito fama com dois filmes muito cultuados (Lunar e Contra o Tempo), resultando em filmes burocráticos tanto do ponto de vista narrativo quanto estético em função das interferências dos chefões destas empresas no processo de realização. Como o próprio Jones deu a entender que esse não era o caso de Warcraft e que ele vivenciou com o estúdio a mesma liberdade na condução dessa história que teve em seus outros dois títulos, ninguém tinha motivos para duvidar do resultado da sua mais recente empreitada. Seja lá o que tenha ocorrido nos bastidores de Warcraft, o que se vê na tela não traz o menor vislumbre do realizador que Duncan foi até aqui. Pelo contrário, o que será visto nos cinemas é uma obra sem personalidade alguma e que soa, narrativa e esteticamente, semelhante a inúmeros exemplares do gênero que anseiam desesperadamente ser O Senhor dos Anéis da sua geração, mas o máximo que conseguem é produzir um exemplar de cinema fantástico completamente esquecível.
O longa tem início quando as terras de Azeroth são invadidas por um grupo de orcs que chega ao local graças a um portal. Ciente desse perigo, os humanos mobilizam esforços para neutralizar uma batalha que, por sua vez, passa a ter como foco os conflitos pessoais de dois guerreiros pertencentes a esses grupos. Em meio a todo esse cenário, uma força do mal começa a reger os próximos passos desse conflito deixando a situação entre orcs e humanos ainda mais complicada e difícil de ter um desfecho pacífico.
Criativamente, Warcraft não chega a ser o filme caótico que parte da crítica internacional apontou. Contudo, o longa peca pela condução pálida, abusando de recursos corriqueiros no gênero (a trilha sonora grandiloquente e invasiva de Ramin Djawadi, as decisões esquemáticas do roteiro a respeito dos seus personagens, a estética cartunesca do seu design de produção calcado basicamente em efeitos de CGI etc.). Além disso, Duncan Jones não consegue em momento algum tornar todo o universo de Warcraft, que parece complexo e repleto de detalhes, em algo minimamente interessante e original para a sua plateia. Nesse ponto é que surge o estranhamento: Onde foi parar toda aquela paixão do realizador pelo mundo e pelos personagens fantásticos de Warcraft? Esse afeto certamente não está na tela. O que o público recebe como produto cinematográfico é um longa de ação sem o menor brilho e que será esquecido facilmente em menos de cinco segundos após os créditos finais terem início. Calibrado por um herói (o ator Travis Fimmel) que consegue a proeza de ser menos expressivo do que o seu co-protagonista, um orc feito em CGI, Warcraft é um filme ausente de emoção desde o princípio e que não consegue criar no seu público empatia alguma por qualquer dos seus personagens ou conflitos.
Ainda assim, talvez o mais grave equívoco de Warcraft seja a arrogância do filme de garantir-se como uma franquia que renderá uma série de outros longas derivados, não dando solução alguma às histórias dos seus principais personagens, nem estabelecendo conexões mais sólidas entre seus principais personagens, o guerreiro Lothar e o orc Durotan . Diante de tantos casos de franquias que não vingaram, deixar diversas pontas soltas no seu primeiro filme soa petulante demais para um projeto que sempre teve os seus riscos de não dar certo (e que pode realmente naufragar financeiramente) – cabe a lembrança, por exemplo, de A Bússola de Ouro que nunca teve continuidade. Insosso como espetáculo, Warcraft parece uma cópia do cinema fantástico que tem sido feito nos últimos anos: sem paixão, brilho e guiado por cartilhas em suas diversas frentes, do roteiro esquemático a estética redundante de computação gráfica. Seja lá qual for a explicação para o resultado desse título com a assinatura de Duncan Jones, o fato é que o que vemos na tela é tudo menos o coração de um fanboy apaixonado por um material que finalmente ganha vida no cinema.