Sonhos, desejos, maturidades e escolhas de vida são os temas centrais do tailandês Veloz, Furioso e Apaixonado. Todavia, apesar de suas temáticas gerais serem bem sérias, a dramédia não escolhe caminhos convencionais narrativos. Há uma dose de ironia, mesclada com nonsense que funciona, principalmente, para dar personalidade para a obra. As estratégias de montagem e decupagem são bem criativas e fora do comum. Os exemplos maiores estão na utilização de cortes descontínuos, jump cuts ou em planos longos.
A direção e roteiro de Nawapol Thamrongrattanarit (Happy Old Year), ao lado da edição de Panayu Kunvanlee (Countdown), não subestimam o espectador. Eles jogam com a atenção de quem assiste e não entregam nada dos acontecimentos da história com textos falados ou explicações imagéticas. A dinâmica do que será pulado e o que o espectador irá observar por um tempo maior é que causa uma sensação de surpresa e estranhamento, justamente porque, geralmente, o cinema não se demora em um rosto que não está demonstrando nenhuma expressão extracotidiana ou pula o desenrolar de uma cena de conflito.
Este longa é sobre quebra de expectativas e isso escorre também para a realidade das personagens e até mesmo dos sonhos que elas perseguem. O protagonista, Kao (Nat Kitcharit), deseja ser campeão mundial de empilhamento, algo que, talvez, não seja de conhecimento de muitas pessoas. Jay (Urassaya Sperbund), garota principal, tem dificuldade de achar qual é a maior vontade de sua vida, até que ela descobre que quer ser mãe. Nos dois caminhos, o filme traça uma ambientação de filme de ação, em seu texto, decupagem e edição. Momentos rotineiros, como lavar um banheiro, são tratados como uma perseguição de carros, por exemplo.
É esta característica o maior ganho de Veloz, Furioso e Apaixonado. Esses tons de suspensão e desespero para tratar de situações ordinárias deixam a sessão mais divertida e é bastante corajoso o feito de Thamrongrattanarit. No entanto, este não é um enredo que trata apenas de ação, ele é, sobretudo, focado no romance entre Jay e Kao. Contudo, novamente, o que é mostrado aqui não tem nada a ver com o que se está acostumado a ser visto. Dificilmente uma comédia romântica colocaria um casal deste jeito. A relação da dupla é quase fraternal, porém vai avançando para cenas um tanto mais intensas que descamam este relacionamento e mostram a profundidade no sentido de romance mesmo.
Apesar de algumas voltas desnecessárias para solucionar os problemas que são criados para Jay e Kao, majoritariamente a construção da relação deles é bem trabalhada. É possível compreender, ainda que com toda a ironia e “palhaçadas” contidas no roteiro, as emoções e sentimentos da dupla, como eles se conectam e deixam de estar conectados e o que é esse amor que sentem um pelo outro. É na investigação da elaboração sobre trajetórias de vida que a obra se constrói, seja na vida conjunta de Kao e Jay, como na separação deles, como eles existem enquanto indivíduos, numa realidade na qual o ship esta separado.
Mas, esta camada está lá embaixo do iceberg e na ponta estão todos os acontecimentos absurdos, diálogos extensos que não vão levar tanto a algum lugar – todo o plot do arqui-inimigo de Kao se estende demais, por exemplo – e até a própria premissa da jornada de Kao com seus copos. O que acontece através dessa lógica é um esvaziamento do equilíbrio rítmico. De certa maneira, as escolhas ousadas também afetam negativamente o andar da narrativa, deixando uma impressão de que alguns instantes poderiam ser deletados do corte final. Por não conseguir dosar o cômico com o desenlace dos conflitos, a partir da metade da exibição tudo começa a ficar cansativo.
Além disso, o terceiro ato perde bastante a oportunidade de dar um desfecho cuidadoso para um casal que cria tanta empatia e proximidade com a plateia. Porque ainda que Kao seja um homem infantil e egocêntrico, é difícil não torcer por ele e, claro, mais ainda, por Jay. Desta forma, o conceito geral de Veloz, Furioso e Apaixonado é um tanto inovador e causa um bom impacto até a sua metade, pelo menos. Mas, infelizmente, tudo que vai se tornando apaixonante no começo vai ser perdendo no final, deixando um vazio e uma sensação de que as firulas poderiam ter menos duração do que o desenrolar da trama.
Direção: Nawapol Thamrongrattanarit
Elenco: Nat Kitcharit, Urassaya Sperbund, Anusara Korsamphan
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