Estreando na direção de um longa-metragem com um típico drama real da temporada de prêmios hollywoodiana, Andy Serkis (das trilogias O Senhor dos Anéis e Planeta dos Macacos) chega no circuito com Uma Razão para Viver. O filme narra a vida de Robin Cavendish, vivido por Andrew Garfield (indicado ao Oscar recentemente por Até o último homem), um homem que nos anos de 1950 sofre uma paralisia em virtude da poliomelite e se torna pioneiro no tratamento da deficiência física ao sair da cama do hospital e ter uma vida “normal” em seu próprio lar, adaptado, claro, às novas circunstâncias das suas condições de saúde. Robin teve seus movimentos reduzidos ao extremo, respirando por aparelhos, mas, graças a ajuda de amigos conseguiu mecanismos que viabilizaram uma vida comum com sua esposa e filho em sua casa.
Produzido pelo filho do biografado, Jonathan Cavendish, Uma Razão para Viver é roteirizado por William Nicholson, de Os Miseráveis e Gladiador. A vida de Cavendish tem todas as peças que estão à serviço da narrativa clássica: a vida de Robin é contada como uma trajetória repleta de feitos admiráveis, com pouquíssima mácula ao seu caráter. Ao mesmo tempo, o protagonista conta com a ajuda de uma esposa dedicada interpretada por Claire Foy (premiada por seu trabalho na série The Crown). Contudo, apesar de contar com toda uma estrutura narrativa mais do que “manjada”, o filme de Andy Serkis é honesto com seu público e seus personagens, emocionando a plateia sem apelar para o dramalhão, seja explorando em demasia seja realçando em tons exagerados os dramas evidentes das suas vidas.
O filme é um relato positivo sobre o seu biografado, evitando qualquer tom pessimista ou sombrio sobre sua condição. Portanto, não esperem um retrato realista ou melancólico. Serkis encontra o equilíbrio ao usar sua história como inspiração, dar destaque às emoções e não ser intrusivo ou manipulador nos efeitos que sua história causa. Situação exemplar disso é a maneira como encerra o seu longa, um momento inegavelmente dramático na história dos seus personagens, mas tratado com elegância e minimalismo pelo cineasta através de composições singelas de planos e direção certeira do seu elenco. Em momento algum as performances de Andrew Garfield e Claire Foy soam fora da medida como um overacting. Nas circunstâncias em que os atores têm que subir um pouco o tom das suas emoções, eles, junto com o seu diretor, conseguem encontrar um meio termo entre a explosão de sentimentos e a consciência de que suas performances não devem se sobrepor à própria história narrada.
É certo que o filme derrapa no terceiro ato, quando prolonga em demasia o estágio final da vida de Cavendish, mas ainda assim, fica na memória do espectador os acertos do filme, sobretudo no tom que Serkis encontra para uma história que tinha tudo para cair no dramalhão fácil. Em Uma Razão para Viver, Andy Serkis não tem uma estreia que evidencie o nascimento de um revigorante autor cinematográfico, nada aqui é surpresa. No entanto, fica a boa impressão de um diretor que soube compreender as demandas da sua história e da chave de sua comunicação com o público sem apelar para qualquer sensacionalismo.
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