Uma Noite em Haifa

Crítica: Uma Noite em Haifa

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O novo filme de Amos Gitai (O Dia do Perdão) é um desafio para o espectador, mas no pior sentido que esta palavra pode conter. Com diversos núcleos e múltiplos enredos, que tentam ser bastante elaborados, o roteiro de Marie-Jose Sanselme (Terra Prometida) não dá conta de explorar todas as relações, conflitos e camadas das personagens e suas tramas. Desta maneira, fica difícil se conectar com as histórias e com toda a dinâmica de crítica social que é posta em cena.

A sensação que a obra passa é a de que quer causar algum impacto, com uma proposta de tensionar relacionamentos entre israelenses e palestinos, bem como convocar pautas da comunidade Queer, divergências em matrimônios e adultério. São muitos temas, que não são costurados. Trazidos de uma maneira confusa, sem que as linhas narrativas criem uma lógica geral para o longa, o público pode se distrair, inclusive, tentando lembrar de cada acontecimento trazido no filme, enquanto novas informações já estão sendo postas.

Estas idas e vindas são exaustivas e sem entrelace. Ainda, pode-se dizer que a própria ideia de construção tradicional de dramaturgia se embola aqui. Qual é o objetivo daquelas personagens? Qual a virada dos plots? Quem é a/o protagonista? Quais são as resoluções e transformações daquelas figuras postas na tela? Porque para fugir da tradição na escrita é necessário que isto soe intencional e que efeitos sejam criados a partir disso. Isto não acontece em Uma Noite em Haifa.

Uma Noite em Haifa

E é pelo fato do trabalho de Marie ser tão confuso, que a direção e as atuações dentro da produção seguem a mesma lógica. Em alguns momentos, Gitai traz instantes imagéticos prazerosos, que vão apenas agradar visualmente, mas que também não fomentam em nada a narrativa, justamente por não estarem à serviço dela. A sensação que Amos Gitai passa é a de que ele não conseguiu captar o que desejava mostrar, dentro da elaboração de sentido e do próprio estabelecimento de atmosfera.

Os intérpretes estão quase fora de seus papéis. A melhor metáfora para explicar o nível de representação da atuação do elenco é a de pensar quando um indivíduo pega uma roupa emprestada que não lhe serve. Seja ela muito maior ou menor para seu corpo, todes ao seu redor conseguem notar que aquela peça não é sua. O mesmo pode ser dito aqui: as figuras dramáticas chegam como um empréstimo, não se encaixam em seus corpos e sufocam um provável processo criativo, que jamais acontece.

Por este motivo, esta é uma sessão insólita. Com uma falta de unicidade, quem assiste Uma Noite em Haifa, dificilmente, sairá da exibição satisfeito. Talvez, existam sequências que vão agradar aos olhos, por alguns segundos. No entanto, este não é um bom motivo para gastar 1hora 39 minutos de uma vida que passa tão ligeira.

Direção: Amos Gitai

Elenco: Maria Zreik, Khawla Ibraheem, Bahira Ablassi, Tsahi Halevi

Assista ao trailer!