Um Homem Diferente

Crítica: Um Homem Diferente

3.5

Um Homem Diferente é um longa bastante ousado do cineasta estadunidense Aaron Schimberg. O filme conta a história de Edward, um ator que após anos de sofrimento por problemas de aceitação social decorrentes do preconceito por sua aparência passa por um procedimento médico que lhe promete uma transformação facial. Quando consegue o rosto que sempre sonhou, Edward começa a atravessar uma espiral de loucura pois percebe que seus incômodos com sua posição no mundo seguem presentes.

No início do ano, Um Homem Diferente saiu do Festival de Berlim com o prêmio de melhor ator para Sebastian Stan. O filme confirma Stan como um dos artistas mais interessante do seu tempo. O ator se joga em papéis e projetos desafiadores e arriscados se considerarmos que ele poderia muito bem acomodar-se com as benesses de protagonista de blockbusters potencialmente herdadas da sua passagem pela Marvel.

Um Homem Diferente é um longa de muitas camadas que possivelmente não conseguiriam ser exauridas em um texto como este, publicado na ocasião da sua estreia. Basicamente, o longa de Aaron Schimberg é um comentário a respeito da nossa relação com a aparência física, mas também um metacomentário sobre o olhar para representações de estratos sociais na mídia. A direção e o roteiro de Schimberg conduz o espectador a uma narrativa que mistura sensações e gêneros cinematográficos, sendo um filme difícil de classificar a princípio. É um longa que tira o espectador da zona de expectativas e causa desconforto desde o primeiro instante, ao mesmo tempo em que instiga, afinal o público fica o tempo inteiro desejando desvendar as pretensões do seu cineasta com uma história de caminhos tão incomuns e com um tom por vezes tão híbrido.

Um Homem Diferente

Quando Edward, já com o rosto de “homem padrão” do ator Sebastian Stan conhece Oswald, interpretado por Adam Pearson (de Sob a Pele), um rapaz que tem a sua aparência antes do procedimento cirúrgico e que se candidata ao papel de uma peça inspirada na própria história do protagonista, tendo mais sucesso que ele, o personagem principal de Um Homem Diferente entra em uma espiral psicológica insana e é nesse momento que o público entra em contato com as possibilidades inimagináveis desse filme.

Com um novo rosto, Edward segue inseguro, cheio de travas e complexos. Há algo além da aparência que confere brilho a Oswald e ofusca Edward. O personagem de Sebastian percebe que Oswald é mais a vontade com o seu próprio corpo do que ele era, tendo mais traquejo social e recusando-se ao olhar de comiseração que a dramaturga interpretada por Renate Reinsve na trama e o próprio filme de Schimberg lhe reservava até então, encarando sua trajetória como um conto de fadas a la A Bela e a Fera. Oswald recusa essa trajetória e isso surpreende e desconcerta Edward e é no “embalo” dessa construção dramatúrgica do seu roteiro que Schimberg provoca seu próprio espectador.

Em meio a todo esse desenvolvimento da própria trama de Um Homem Diferente, Aaron Schimberg também cutuca a forma como personagens como Edward são representados na tela. No afã de conceber retratos mais positivos de estratos sociais marginalizados, diretores e roteiristas acabam conferindo um tratamento comiserativo ou sucumbem a uma ideia de empoderamento que desumaniza seus personagens, nunca encontrando um meio termo mais próximo da realidade. Dessa forma, Um Homem Diferente acaba “cutucando” o próprio ofício com muita contundência, é liderado por três ótimas performances e por uma direção e um roteiro arrojados ao extremo.

Direção: Aaron Schimberg

Elenco: Sebastian Stan, Renate Reinsve, Adam Pearson

Assista ao trailer!