Todos Já Sabem

Crítica: Todos Já Sabem

Chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 21 de fevereiro, o longa Todos Já Sabem, de Asghar Farhadi. O diretor iraniano foi responsável por grandes filmes como O Apartamento e A Separação, ambos vencedores de diversos prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Neste novo longa, ele traz a história de Laura, uma mãe dedicada que mora na Argentina e vai visitar a família na Espanha, para o casamento de uma das irmãs. Durante a festa, sua filha mais velha é sequestrada e o transtorno começa a partir daí, com a busca da garota e as desconfianças que vão surgindo ao longo da trama.

O filme tem uma narrativa expositiva e lenta, com poucos fatos acontecendo. Trata-se de uma crônica em tela. No primeiro ato, antes do sequestro, o espectador é apresentado ao cenário e a realidade que aquela família está inserida. Alguns fios vão ficando no caminho justamente para deixar o público intrigado e ansioso para entender o que está acontecendo. Ao mesmo tempo, questões de moral, relacionamento e aceitação vão sendo travadas cuidadosamente nas arestas da trama.

No protagonismo, temos a dupla e casal na vida real Penélope Cruz e Javier Bardem. Ambos falando em suas línguas originais, estão visivelmente à vontade com os personagens e entregues naqueles momentos. A química dos dois e a naturalidade com que contracenam é impressionante e gostoso de se ver. Para além deles, o marido da protagonista é vivido por Ricardo Darín, outro excelente ator, que dá ainda mais força às cenas. Todos os coadjuvantes também funcionam muito bem para dar suporte aos sentimentos que são experienciados. Impressionante como conseguiram encontrar mulheres tão parecidas com Penélope para interpretar suas irmãs.

Todos Já Sabem trabalha com a dúvida o tempo todo. O espectador fica se questionando quem está falando a verdade e quem está apenas manipulando a situação. Enquanto vemos um sofrimento real por parte da mãe da menina sequestrada, o pai se mostra muito calmo e indiferente em alguns momentos. Para além disso, o amigo da família e ex-namorado de Laura, se dedica “demais” na busca pela garota, deixando todos com uma pulga atrás da orelha sobre o seu real interesse.

Todos Já Sabem

A trama vai se desdobrando e se revelando como uma jogada de interesses. O personagem mais desconectado, inicialmente, da história, é o que mais se envolve e sofre com as consequências do sequestro. Paralelo a isso, questões de dinheiro e dívidas passadas são retomadas, colocando em voga questões sociais que pareciam inexistir no começo de tudo. Aquela fachada de família perfeita e equilibrada que é mostrada no começo vai sendo desmontada ao longo do roteiro, mostrando que muitos ali usam máscaras permanentes.

O drama de suspense faz uso de diversos artifícios para dar ao espectador a ferramenta de analisar e “julgar” os personagens. Todos ali possuem seu lado sombra e seu lado luz, mas cabe a nós decidir em quem acreditar. O final do longa, por sinal, deixa margem para muitas dúvidas e tantas outras interpretações. Mas ainda assim, com um desfecho honesto com o espectador e tão bom quanto a condução da trama.

Embora o clima de suspense esteja presente a maior parte do tempo, com apelo para a criação de um cenário onde todos são possíveis culpados, o foco de Todos Já Sabem não é exatamente esse. Isso funciona como palco para um drama muito mais denso do que a “simples” tragédia que nos é posta. Relações emocionais são colocadas a prova o tempo todo, em uma narrativa bem costurada em todos os momentos.

Este é um longa muito eficaz e contundente que vai se desdobrando em muitas camadas ao longo do roteiro. Unido à um elenco de ouro, definitivamente é um filme que merece a atenção do público, que será presenteado com uma ótima história e excelentes atuações.

Assista ao trailer!