Existem múltiplos tipos de obras audiovisuais. Algumas são impecáveis esteticamente e cumprem sua função de forma plena. Outras, por mais que tentem imprimir qualidade técnica, falham por não funcionarem na tela de certa maneira, como em uma falta de estabelecimento de tensão em um suspense ou ter o tempo certo em uma comédia. Ainda existem aqueles que, por mais equívocos que possuam aqui e ali, divertem, elencam quesitos positivos e, mesmo que não sejam brilhantes, acabam entregando um resultado aceitável. Este último caso é o de The Old Guard, nova produção da Netflix, estrelada por Charlize Theron (Casal Improvável).
Começando pelo o que há de melhor no filme, é possível destacar fortemente o desenvolvimento das personagens, principalmente como isto cria um elo de conexão do espectador com a obra. A forma como a vida pregressa das personagens é contada de maneira orgânica e pontual. Depois, traços de suas personalidades apareçam em momentos de conflitos e batalhas é um ganho aqui. O público acaba conseguindo alcançar uma sensação de proximidade com aquelas personas ficcionais e suas escolhas também fazem mais sentido por isso. Como foram muitos séculos de existência, as suas trajetórias ganham força, seja em frases que parecem soltas em cenas espaçadas ou em situações nas quais tudo cessa para que se possa mergulhar no passado. Isto faz com que, ao final da projeção, um senso forte de empatia seja atingido.
Outro fator que chama a atenção é a mescla equilibrada entre enquadramentos com a câmera parada e os que utilizam amplamente diversos movimentos, fomentando as sequências de ação e criando um clima mais intimistas nos instantes de conversa. Como se é sabido, é crucial neste tipo de gênero os respiros bem feitos, daqueles não façam com que o fôlego se perca. Dessa maneira, a diretora Gina Prince-Bythewood (A Vida Secreta das Abelhas) sabe quando priorizar o foco dos momentos introspectivos e das revelações sobre outras épocas, deixando que estas partes sejam realmente dos atores. Já nas batalhas e brigas, panorâmicas, tilts, trackings etc aparecem bastante. Esta dinâmica, inclusive, é acentuada pela iluminação, pelo figurino e o cenário, que têm uma sobriedade maior, com cores mais neutras e/ou lisas, direcionando sempre o olhar para o que está sendo mostrado.
No entanto, o roteiro desenvolve bons backgrounds das personagens, mas falta um tanto de vontade em não subestimar o público na construção das relações. Além de uma narração de Theron – que se perde no meio da exibição – os diálogos são, muitas vezes, expositivos. Eles explicam e reexplicam elementos que já foram compreendidos ou que poderiam ficar subentendidos. Outro incomodo da narrativa é a quantidade de plots em um único longa. O desespero em colocar premissas que deixem ganchos para uma continuação faz com que o rumo daquele episódio fique um tanto turvo.
O que é extremamente estranho já que quem assina o roteiro é Greg Rucka, criador da HQ que inspirou a adaptação de The Old Guard. Há muita informação e, até a conclusão do conflito principal, fica uma suspensão estabelecida, porque existem dois caminhos claros que poderiam ser seguidos. E eles ficam se espremendo constantemente, procurando um espaço para ocorrerem com tranquilidade. Esta sede por inserir muitas subtramas diminui o impacto do que está sendo contado, porém, o seu resultado final é uma sessão divertida e empolgante.
Direção: Gina Prince-Bythewood
Elenco: Charlize Theron, Charlize Theron, Harry Melling, Kiki Layne, Chiwetel Ejiofor, Veronica Ngo, Matthias Schoenaerts
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