The Kill Room

Crítica: The Kill Room – Arte Fatal

2.5

A ideia central de The Kill Room – Arte Fatal lembra a de Toda Arte é Perigosa de Dan Gilroy, lançado em 2018 com Jake Gyllenhaal no elenco. Assim como a produção original da Netflix, o filme da diretora Nicol Paone intenta chacoalhar o mundo das artes e questionar seus esquemas de construção de valor para obras, algo mais contextual e elaborado por publicistas ou “marqueteiros” do que imanente à própria arte. De certa forma, Paone consegue realizar isso com The Kill Room, existem ideias interessantes a serem trabalhadas na comédia. Acontece que o intento, na maioria das vezes, é desarranjado e disperso por uma série de outras pretensões do filme. O longa propõe algo arrojado, mas acaba se entregando ao superficial, revelando-se no fundo como uma trama escapista que se contenta em seguir cartilhas dos gêneros com os quais procura diálogo.

Em The Kill Room – Arte Fatal, Uma Thurman vive Patrice, uma negociante de arte que trabalha para uma galeria de Nova York e vive uma crise profissional, enfrentando diversos empecilhos no seu trabalho, como artistas pretensiosos, colegas de trabalho temperamentais e a competitividade do meio. Quando Patrice é abordada por Gordon (Samuel L. Jackson) ela acaba transformando a galeria onde trabalha em parte central de um esquema de lavagem de dinheiro. Nas atividades, Patrice acaba conhecendo Reggie (Joe Manganiello), um assassino de aluguel que também trabalha no esquema criminoso de Gordon. A galeria da curadora vivida por Uma Thurman passa então a receber uma série de obras assinadas por Reggie sob o pseudônimo “The Bagman” (na tradução, o homem da sacola), todas elas utilizando como matéria prima itens dos seus assassinatos. Eis então que o grupo de criminosos acaba revolucionando a cena artística novaiorquina por caminhos nada éticos ou legais.

The Kill Room – Arte Fatal pretende ser uma trama que procura mesclar sua história sobre o crime organizado com uma comédia sobre o mundo das artes. O roteiro de Jonathan Jacobson tem boas ideias para colocar na mesa. Na medida em que a personagem de Uma Thurman se vê cada vez mais encalacrada no esquema criminoso de Gordon (Jackson), a curadora de arte passa a criar formas cada vez mais inventivas de fomentar a carreira do assassino de aluguel interpretado por Manganiello, utilizando toda uma cartela retórica para convencer os seus clientes sobre o valor da obra do tal “The Bagman”. A estratégia acaba funcionando e o próprio assassino de aluguel toma gosto pelo universo das artes, fazendo o filme articular uma ideia muito bem explorada na animação Ratatouille, a de que a arte pode surgir dos lugares menos suspeitos – claro que, aqui, isso intenta ser desenvolvido com altas doses de ironia tendo em vista que os protagonistas do longa são agentes do crime.

The Kill Room

O filme consegue estabelecer um olhar interessante para as instâncias de consagração da arte, destacando o lugar do discurso de terceiros (publicitários e empresários produzindo argumentos assimilados e difundidos muitas vezes inconscientemente por críticos) na aceitação de determinados movimentos, mostrando como muitas vezes isso pode ser orquestrado por esquemas que em nada tem relação com a criação artística, mas com ramificações do capitalismo. Vemos isso acontecer o tempo todo na indústria do cinema, especialmente a estadunidense, com todo o seu esquema de lançamento de blockbusters que muitas vezes saem da curva e supostamente revelam-se mais do que peças de entretenimento. Algumas vezes, o fenômeno procede, existe de fato coisas de valor sendo produzidas na indústria, mas outras, nem tanto, e não passa de uma retórica engendrada por estúdios para sugerir ao público um outro olhar para coisas feitas com puro intento comercial e nada mais do que isso. The Kill Room deseja falar sobre isso e a articulação com Hollywood me parece mais do que adequada sendo que estamos falando de um filme.

É uma pena que The Kill Room – Arte Fatal não parece decolar na sua crítica. Quando o roteiro parece ganhar contornos interessantes e desenvolver suas premissas de forma mais radical, o que inclui uma performance de Reggie filmada com câmeras de segurança projetada por Patrice e exibida para seus clientes ricaços que testemunham maravilhados o assassino de aluguel dar fim a mais um sujeito, o longa parece optar por um desfecho menos corajoso que o seu ponto de partida anunciava. The Kill Room encerra seus conflitos com desfechos incompletos para alguns dos seus personagens principais, como é o caso de Reggie, e ainda perde o fio da meada na sua crítica social, cedendo a esquemas da comédia para histórias protagonizadas por personagens com parâmetros éticos questionáveis. No final das contas, The Kill Room acaba sendo um grande desperdício para uma boa premissa.

Direção: Nicol Paone

Elenco: Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Joe Manganiello, Maya Hawke

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