Até onde vai o senso de ética e justiça de uma pessoa? Você colocaria em risco a sua liberdade individual em prol do bem-estar de outras pessoas que nem conhece? A finalidade justifica os meios? Seguindo esta linha de raciocínio, Segredos Oficiais se desenvolve como uma densa trama sobre o privilégio da informação e o que fazer com ele.
Baseado em uma história real, o enredo traz a tradutora Katharine Gun (Keira Knightley, Orgulho e Preconceito), uma mulher comum que trabalha em um importante setor estratégico do governo. Em meio aos vários documentos que recebe diariamente, ela acaba descobrindo que o Reino Unido, juntamente com os EUA, pretende articular informações para forçar a guerra contra o Iraque, em 2003. Sua vida acaba virando um completo caos depois que ela decide vazar esse conteúdo para a imprensa.
O longa traz discussões pertinentes sobre política, justiça e a importância da imprensa. Especialmente no momento que vivemos atualmente. Fica bem claro desde o início que nada disso teria acontecido se não fosse a atuação presente da imprensa investigativa, que efetivamente comprou a ideia de denunciar a informação descoberta e buscar respostas para os fios que ficaram soltos. O papel do jornalista é decisivo na manutenção da democracia e no que se almeja dela. Segredos Oficiais expõe isso de maneira categórica e contundente.
Pelo viés da justiça, será que vivemos em uma sociedade que está preocupada com a comunidade ou apenas com as pautas individuais? A informação vazada por Gun afetava centenas de milhares de pessoas. A forma como a guerra foi fabricada e sua motivação forçada mostra o quanto que os dois governos em questão estavam dispostos a colocar culpa em países que não eram o alvo principal. Tudo isso em benefício de seus interesses particulares.
As jogadas de poder expostas pelo filme mostra o quanto que vivemos constantemente sendo subjugados e colocados de lado nas decisões que nossos próprios governos tomam. Além disso, não seria obrigação da justiça defender o que é correto? A mesma se mostra limitada por contratos firmados de maneira equivocada e mal intencionada. Cabe aos advogados apenas minimizar o impacto da escolha feita por Katharine, mesmo que na prática seu erro tenha sido mínimo, comparado ao benefício a que se propunha.
Este é o ponto primordial da trama. Um erro cometido para um benefício imensamente maior pode ser justificado? Ao espectador, parece que sim. Falta, no entanto, esmiuçar melhor qual a motivação para que Gun tenha tomado essa decisão. Embora o roteiro explore isso com relação ao marido estrangeiro e sem visto oficial, pouco tempo se dá para que a ideia se fundamente de uma maneira mais profunda. Desta forma, por um longo período, fica a sensação de que ela apenas teve um rompante de ética.
Com um elenco formidável, formado ainda por Matt Smith (The Crown), Adam Bakri (Omar), Matthew Goode (Downton Abbey), Ralph Fiennes (Harry Potter) e Rhys Ifans (Um Lugar Chamado Notting Hill), toda cena de Segredos Oficiais é realizada no seu potencial máximo. Knightley está despida de qualquer trejeito que ela pudesse ter e se entrega completamente à protagonista, com todas as suas dores, medos e angústias. As emoções de Gun são exploradas de maneira inteligente e certeira pelo diretor Gavin Hood (Decisão de Risco).
Segredos Oficiais é um longa bem trabalhado, amparado por excelente elenco e construção de clímax coerente. O fato de ser baseado em uma história real e ser tão próximo da atualidade, também é um importante elemento para o resultado final. Vale muito a pena conferir!
Direção: Gavin Hood
Elenco: Keira Knightley, Matt Smith, Adam Bakri, Matthew Goode, Ralph Fiennes, Rhys Ifans
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