Em Sala Escura, o diretor e roteirista Paulo Fontenelle traz um conceito interessante de slasher. Um grupo de pessoas vai à pré-estreia de um filme de terror e é preso na sala de cinema por um serial killer que instaura um ambiente de pânico na medida em que faz dessas pessoas suas vítimas.
O início do longa estabelece as pretensões do diretor: dialogar a vivência de horror dos personagens fora da tela com eventos que costumam ser vivenciados pelo público na ficção. A câmera que registra duas amigas conversando enquanto vão até suas respectivas poltronas na sala de exibição para logo em seguida dirigir-se para a tela é um indicativo da consciência do teor metalinguístico do projeto que o seu diretor possui. Ao longo do filme também são projetadas imagens das torturas empreendidas pelo serial killer do longa, um sujeito mascarado, como manda a tradição do gênero, e que age ao som de marchinhas de carnaval.
Infelizmente, Sala Escura é o tipo de filme cuja premissa não rende uma boa execução. A metalinguagem não é explorada além do óbvio pelo roteiro do longa. Fontenelle não utiliza recursos como a escuridão de uma sala de cinema ou mesmo as projeções na tela como aliadas criativas do gênero, enfraquecendo todos os potenciais latentes da obra e isso fica sensível para o espectador na medida que a tensão é diluída na história. Há problemas na maneira como o roteiro articula as situações vistas no filme, mas também na direção, que não concebe a melhor experiência com o gênero que poderíamos esperar. As situações parecem arrastadas em Sala Escura em uma dinâmica de “gato e rato” entre os espectadores da sala da história e o serial killer mascarado.
O roteiro de Sala Escura apresenta uma série de conveniências que levam os personagens a tomar as decisões mais ilógicas possíveis. Há ainda diálogos artificiais que não criam para nenhuma das “duplas” de personagens (todos chegam com uma companhia na sala cinema e com seus próprios plots) um fiapo de trama minimamente interessante: o casal em um date, um relacionamento tóxico, duas amigas que acabam de sair do trabalho… Enfim, nada disso é interessante a ponto de gerar engajamento ou torcida do público com as vítimas em Sala Escura. A conexão entre essas pessoas também jamais é explicada em profundidade pelo roteiro, que trata como dados alguns vínculos e histórias pregressas, convencendo bem pouco o público, sobretudo a razão pela qual a maioria das pessoas envolvidas aparentemente nunca tinham se visto.
Pelo ponto de vista da direção, apesar de algumas cenas funcionarem bem, como a espiada na brecha da porta da saída do cinema do personagem do ator João Vitor Silva, Fontenelle prolonga excessivamente o suspense de algumas cenas, confirmando que na maior parte das vezes o filme perde o timing dos acontecimentos e tem uma narrativa arrastada. Como acontece com muitas boas ideias, Sala Escura não demonstra na prática o bom desenvolvimento em suas frentes criativas que seriam essenciais para um bom resultado. Como consequência, o slasher nacional decepciona fãs do gênero que identificaram a originalidade do material em sua divulgação.
Direção: Paulo Fontenelle
Elenco: Paulo Lessa, Allan Souza Lima, João Vitor Silva
Assista ao trailer!