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Crítica: Roma

A temporada de premiações de 2019 já começou. O Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards – dois dos maiores prêmios do cinema e da televisão – aconteceram nas últimas semanas e já mexeram com o mercado cinematográfico. Graças a mais um trabalho primoroso do diretor e roteirista Alfonso Cuarón, o novo filme da Netflix levou para casa um total de seis prêmios. Roma foi o longa-metragem mais premiado do último domingo (13). Na noite do Critics’ Choice Awards, o trabalho do diretor mexicano ganhou nas categorias “Melhor Fotografia”, “Melhor Filme em Língua Estrangeira”, “Melhor Diretor” e ainda foi escolhido como o melhor longa do ano.

A nova obra de Cuarón é palco de comentários no mundo cinematográfico desde o Festival Internacional de Cinema de Veneza de 2018, onde o longa foi consagrado com o Leão de Ouro – prêmio máximo da cerimônia. A temática, a estética e a história por trás do filme envolveram público e crítica na sua primeira exibição em setembro do ano passado. A aclamação é inevitável, Cuarón conseguiu compor uma obra-prima para sua carreira. O longa, que está em exibição em alguns cinemas e disponível na plataforma da Netflix, deixa uma dúvida: quantos prêmios ele ainda levará para casa. Pela frente ainda acontecerão inúmeras premiações – dentre elas as mais importantes do meio cinematográfico como o SAG Awards, BAFTA e o Oscar. As apostas já foram feitas e as expectativas estão altas.

O cenário conflituoso da Cidade do México de 1970 será o pano de fundo para a história de Cleo (Yalitza Aparicio). Empregada doméstica de uma família classe média, a jovem verá a sua rotina e a de seus patrões se transformar completamente ao longo dos conturbados acontecimentos cotidianos durante um ano. A força dos eventos provará para Cleo a sua capacidade de resiliência e, para a família de empregadores, a vitalidade dessa silenciosa mulher em suas vidas.

Alfonso Cuarón se tornou o nome número 1 das premiações. As suas múltiplas habilidades têm sido agraciadas com diversos prêmios nessa temporada de cerimônias e está ganhando força para se tornar um forte concorrente ao Oscar. O diretor, roteirista e produtor mexicano traz para o público, desde 1991, uma carreira recheada de trabalhos sensíveis ornados por uma estética impecável. Roma, sua mais nova obra-prima, é mais uma amostra do trabalho excepcional que Cuarón é capaz. Cada plano, cada sequência e cada jogo de câmera foram meticulosamente pensados desde a criação da história. As paisagens capturadas pelo olhar do diretor são personagens a parte que constroem uma narrativa ainda mais rica e real. Roma é um presente aos olhos, um abraço quente ao coração e um lembrete a mente.

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O roteiro do longa, também assinado por Cuarón, traz as lembranças pessoais do diretor para as telonas. Essa mutação de memórias em arte resultou em uma das histórias mais sensíveis e verdadeiras já vistas nos últimos anos. A construção da narrativa é sustentada por um vislumbre do cotidiano disfuncional de uma família classe média. A alma da história é a personagem de Yalitza Aparicio, que é uma espécie de guia espiritual para as outras personagens e para o público. A jovem empregada personifica a inocência e a alegria juvenil enquanto lida com a vida real e todos os seus males. A dureza da realidade é a forjadora dos acontecimentos essenciais da trama, conduzindo as personagens e o público numa jornada sobre amadurecimento e simplicidade.

A escolha do filme ser preto e branco foi uma ideia ousada. Não é um fator nem um pouco comercial, mas, se bem feito, pode conquistar a todos com imagens belíssimas – e foi justamente o que aconteceu. Cuarón, que também assume a função de diretor de fotografia, capturou algumas das imagens mais lindas do cinema em 2019. A estética p&b da produção deu ainda mais força e presença às paisagens da Cidade do México de 1970. O clima de outra época, a aura pura da história e a rigidez da realidade aplicada ao conturbado período produziram uma bela fotografia merecedora de todos os prêmios possíveis.

A missão de transmitir memórias através do cinema não era fácil. A história poderia ter se tornado monótona ou desnecessária, mas, em vez disso, a narrativa de Roma foi brilhantemente costurada com seus acontecimentos e personagens. A presença das atrizes Yalitza Aparicio e Marina de Tavira foi uma peça-chave para dar liga a verdade que é transmitida através da câmera. As suas interpretações foram brilhantes e fundamentais para a construção dessa narrativa real.

Em meio a essa avalanche de elogios e prêmios é inevitável questionar como serão as premiações que estão por vir. As apostas estão baseadas no padrão do Critics’ onde o longa-metragem levou os prêmios de “Melhor Fotografia”, “Melhor Filme em Língua Estrangeira”, “Melhor Diretor” e “Melhor Filme”. A aclamação e a qualidade do filme são tamanhas fazendo de Roma um dos maiores cotados para o Oscar de Melhor Filme de 2019. Quem sabe a 91ª edição do Academy Awards não tenha um ganhador mexicano nas principais categorias de sua cerimônia. Independentemente do resultado que vier daqui para frente, 2018 será lembrado como o ano de Roma.

Assista ao trailer!

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