Terminada a trilogia na qual acompanhamos a ascensão do macaco César, Planeta dos Macacos – O Reinado pretende expandir o universo da franquia abordando aquilo que veio depois do democrático governo do chimpanzé interpretado por Andy Serkis. No filme que dá continuidade à franquia, acompanhamos a jornada de Noa, jovem integrante de uma comunidade pacífica de macacos marcada por sua conexão com as águias. Quando o grupo de Noa é atacado e feito prisioneiro por um grupo de macacos que se apropria das palavras de César para o mal, o personagem empreende uma jornada para salvar a família. Noa acaba se deparando no meio do caminho com uma humana chamada Mae e com o sábio Raka, que lhe transmite os verdadeiros ensinamentos de César.
Apesar da trilogia iniciada com Planeta dos Macacos: A Origem em 2011 ser completamente satisfatória no seu propósito de resgatar a franquia cinematográfica inaugurada por O Planeta dos Macacos de 1968, Planeta dos Macacos – O Reinado cumpre bem o seu papel de preservar o legado dos filmes anteriores, ampliar os horizontes do universo e apresentar outros personagens de forte impacto para o público, como é o caso do chimpanzé Noa. Ao longo de Planeta dos Macacos: O Reinado, o espectador consegue se conectar com a jornada do seu protagonista que amadurece e gradualmente assume uma liderança. O personagem chega a essa trajetória em meio aos impactos das perdas que sofre ao longo do caminho e da sua resiliência de seguir firme no propósito de reconstruir o seu lar e resgatar aqueles que ama.
Seguindo a trilha dos diretores Rupert Wyatt e Matt Reeves, que se revezaram nesses filmes desde A Origem de 2011, Wes Ball consegue compreender aquilo que mobiliza essas histórias, que não são os recursos digitais, mas sua profunda humanidade e seus questionamentos a respeito dos caminhos que lideranças políticas conduzem seus grupos governados em situações extremas. Aqui, César assume o status de símbolo e o seu legado é apropriado pelos demais como parâmetro moral ou como instrumento de manipulação das massas. Isso faz com que o mito (ou a religião) seja um tópico a ser discutido a partir do filme, com seu uso agregador, refletido na jornada de Noa com sua comunidade (afinal, um novo símbolo de resistência é formado por aquela liderança), mas também desestabilizador e potencializador do ódio e da violência quando o vilão Proximus César forma um séquito em torno de distorções que promove no discurso de César.
Além da condução bem aplicada de temas que espelham nossa realidade, Planeta dos Macacos – O Reinado segue usando muito bem o seu aparato técnico em prol da construção dessa história e da concepção de personagens extremamente expressivos, que conduzem o espectador a uma adesão a suas respectivas jornadas. Assim como César construiu sua “ponte” de identificação com o público, Noa consegue estabelecer esse elo através de uma trajetória de perdas e amadurecimento, se consolidando com nobreza como um herói desses novos filmes. O processo de captura digital da performance dos atores e sua conversão em macacos criados por efeitos digitais gera personagens que mobilizam emoções concretas no público que se comove e torce pelo êxito de Noa, nutre carinho pelo carismático e sábio Raka e sente temor por qualquer gesto de Proximus César.
Ao final de Planeta dos Macacos – O Reinado, um conflito entre humanos e macacos parece iminente, trazendo mais uma conexão do filme com a realidade. É inevitável estabelecer paralelos entre a situação de Israel e Palestina quando a cisão estabelecida entre a humana Mae e Noa ao final do filme é governada por dois sentimentos: de um lado, um grupo que se sente usurpado do seu habitat, da sua tecnologia e do seu poder e, do outro, uma tribo que entende como legítimo o seu desejo de preservar as suas conquistas, compreendendo que elas os levaram a um lugar que, por dignidade, lhes é de direito. Mais uma vez, é a franquia Planeta dos Macacos demonstrando como sua força e importância está além de feitos técnicos, mas no uso deles como meio de contar uma poderosa história sobre conflitos atuais e como eles podem ser definitivo nos rumos da nossa sociedade.
Direção: Wes Ball
Elenco: Owen Teague, Freya Allan, Peter Macon
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