Falar de libertação feminina requer muito cuidado. A linha entre ser feminista ou machista é muito tênue e exige muito cuidado por parte do roteirista de um filme. Em Perfeita É A Mãe!, existe uma espécie de malabarismo, onde a trama ora tende para um lado e ora tende para o outro. Em meio a confusão do espectador, o mesmo consegue, no mínimo, dar umas risadas.
A história gira em torno da personagem de Mila Kunis, que tem dois filhos e um marido inútil que não a ajuda em nada e ela tem que se virar sozinha com todos os afazeres da casa. Na tentativa de ser perfeita em tudo, ela simplesmente vive chegando atrasada em todos os lugares, além de viver constantemente estressada. É quando ela conhece duas outras mães que têm sede de libertação desta rotina burocrática e decidem, juntas, mudar as regras desta sociedade vil.
O plot principal é interessante, não fosse o exagero que algumas situações nos mostram. Mesmo no esforço natural de ir até o completo oposto da situação para depois encontrar o equilíbrio, algumas cenas soam forçadas. E em muitos casos é nesta “forçação de barra” que reside o machismo oculto. Principalmente ao mostrar que ou a mãe é perfeita e cumpre todos os protocolos ou ela é completamente equilibrada. O mesmo acontece quando o ex-marido dela surge em dado momento para “resgatar os filhos” das loucuras que a mãe está fazendo, por não seguir as regras.
Ainda assim, momentos de feminismo surgem também e conseguem atenuar alguns absurdos que assistimos. Talvez por isso eu consiga afirmar que o problema do filme é ficar em cima do muro. Não é lá nem cá. E sim, você consegue rir. Realmente é hilário ver como as mães conseguem se desdobrar em mil para atender todas as suas necessidades, as dos filhos e as da casa (além das de alguns maridos inúteis). Mas mesmo assim, o filme fica apenas nisso, sem nos trazer nenhuma reflexão mais aprofundada, nenhuma risada mais forte ou qualquer cena memorável. Não fossem algumas cenas que mencionam drogas, aposto que viraria um clássico da Sessão da Tarde.
Partindo para o elenco, o choque. Sim, ele é ótimo. Temos Mila Kunis com toda sua naturalidade, Jada Pinkett Smith, Christina Applegate, Kristen Bell, Kathryn Hahn. Adoro elas e as acho ótimas atrizes. E tudo isso torna o filme muito melhor do que ele seria se tivesse um elenco medíocre. Faz com que a gente saia do cinema com a mínima sensação de que pelo menos valeu a pena o ingresso. Ainda assim, alguns potenciais desperdiçados.
Acredito que tudo poderia ter sido diferente se um filme com uma proposta tão feminina fosse dirigido por mulheres, porque, pasmem, ele é dirigido por dois homens. Talvez isso justifique a pequena confusão entre se libertar das amarras da sociedade machista com ser completamente insana.
Confira o trailer!