Ridley Scott é um diretor de ficções científicas. Não é por acaso que dois dos filmes mais celebrados da carreira do realizador são Alien – O 8º Passageiro e Blade Runner e que na sua filmografia recente um dos pontos altos tenha sido seu retorno ao gênero com Prometheus. Existe algo no formato que parece inspirar o realizador e trazer uma faceta bem diferente do Scott burocrático e aborrecido de Robin Hood, Cruzada ou Falcão Negro em Perigo. Perdido em Marte é prova viva disso. Dá para sentir em cada sequência do longa um realizador pulsante, envolvido com sua histórias e seus personagens e comprometido a fazer do seu filme uma experiência marcante para o espectador. Dá para perceber cada fibra de Ridley Scott em Perdido em Marte e talvez seja por isso que este seja um dos melhores longas da filmografia recente do realizador.
Em Perdido em Marte, Matt Damon vive um astronauta que é dado como morto por seus companheiros de missão em Marte. Todos acreditam que Mark Watney (Damon) não conseguiu sobreviver a uma tempestade no planeta vermelho. Watney, no entanto, está vivo e em busca de uma maneira de sobreviver e retornar ao planeta Terra. Com suprimentos escassos, o astronauta tenta estabelecer contato com a Nasa antes que seja impossível manter-se de pé no planeta.
Em linhas gerais, Perdido em Marte é um filme de sobrevivência estabelecendo paralelos com produções como Gravidade e Alien – O 8º Passageiro, do próprio Ridley Scott. Portanto, Perdido em Marte explora o temor hipotético de estar sozinho no espaço e todo o empreendimento heróico para tentar sair de uma situação aparentemente incontornável. A grande diferença é que Perdido em Marte apresenta uma faceta improvável do Ridley Scott, o humor. O longa consegue fugir das “obviedades” de um tipo de narrativa ao explorar o riso até mesmo nas situações de risco iminente, sem perder o fio da meada e compreender que a situação na qual o seu protagonista se encontra é angustiante. É genial, por exemplo, a maneira como Scott explora a trilha sonora em determinadas sequências do filme, trazendo canções icônicas de artistas como o ABBA e até mesmo o clássico “I will survive”.
Assim, através de um Ridley Scott que oferece uma condução equilibrada e interessada no material que tem em mãos (bem diferente do Scott de filmes anteriores que somente “batia o cartão” nos sets de filmagem), Perdido em Marte proporciona ao público um espetáculo com múltiplas gamas de emoções, Emoções estas que também são proporcionadas é claro, pela inteligente e carismática performance de Matt Damon. É claro que apesar do star power de Damon outros atores disputam as atenções do espectador como a sempre impecável Jessica Chastain, o experiente Jeff Daniels, o recém indicado ao Oscar Chiwetel Ejiofor e até mesmo uma Kristen Wiig mais séria que o costume, mas o filme é do seu protagonista e ele segura as rédeas da história como poucos.
Visualmente interessante e tecnicamente irretocável, Perdido em Marte traz um Ridley Scott interessado no seu ofício ou, se preferir, inspirado. O filme parece um apanhado de recursos e tramas já vistas em outros longas, mas encontra nos esforços e na experiência do seu realizador uma maneira vibrante de cativar o interesse da sua platéia. Trata-se de uma prova cabal de que Ridley Scott deveria evitar dramas existencialistas sobre o mundo do crime (O Conselheiro do Crime) e até mesmo épicos que em nada lembram a exceção do acaso Gladiador. Ridley Scott não deveria nunca mais sair do espaço. O público agradece.