Crítica: Paraíso Perdido

Desencontros amorosos, revelações de paternidade, crimes “passionais”… Por trás da história de cada um dos personagens de Paraíso Perdido, mais recente longa de Monique Gardenberg (Benjamim O Paí, 0) existem sentimentos exacerbados e relações permeadas pelo melodrama. Protagonizado por uma família de artistas da noite, o longa é um grande “novelão” embalado pela música brega que compõe o repertório dos seus personagens. Coerente em sua proposta e marcado por uma boa direção, o filme não tem nenhum insight ou brilho na maneira como conduz a sua trama dentro do seu gênero, mas também não faz muito feio ao final da sessão com seu grupo de atores competentes e uso harmônico das canções como elemento fundamental para suas tramas.

Em Paraíso Perdido a família de José, personagem de Erasmo Carlos, se realiza no palco da casa de shows que dá título ao filme, Paraíso Perdido. Com uma programação voltada para a música brega, todos se apresentam com performances no palco e vivem na noite as frustrações e desenlaces de histórias de amor mal resolvidas. O estopim para a trama do filme é uma noite na qual o transformista Ima é agredido na rua por pitboys e o policial Odair o salva, sendo contratado por José para ser segurança particular do jovem artista.

Paraíso Perdido é um filme caracterizado por escolhas conscientes da diretora e roteirista que adequa gêneros como o melodrama e o musical ao cenário por onde aqueles personagens transitam. Parece mais do que natural que todas as figuras que surgem no filme pertençam àquele local e usem as canções populares sobre “dor de cotovelo” como forma de se comunicar ou expurgar seus sentimentos. Todos os personagens de Paraíso Perdido são marcados pela passionalidade das suas relações amorosas, por tragédias familiares do passado ou por aquelas que se anunciam em suas vidas, como se tivessem saído de um filme do espanhol Pedro Almodóvar ou dos clássicos de Douglas Sirk, onde qualquer problema de ordem sentimental mereça ser tratado em caráter de urgência .

É verdade que o trabalho da diretora Monique Gardenberg acaba permanecendo na zona da coerência não trazendo para Paraíso Perdido nenhuma inventividade na maneira como a história é construída imageticamente. Ao mesmo tempo, o filme, uma típica trama mosaico, sofre inevitavelmente com o caráter descartável de algumas figuras, como o próprio José de Erasmo Carlos que parece existir na história mais como personificação do seu universo (uma espécie de elemento identitário) do que como personagem ou a presidiária Milena de Marjorie Estiano, uma participação avulsa na trama. Todavia, atores como Julio Andrade, Hermila Guedes, Malu Galli, Humberto Carrão, Lee Taylor e a revelação Jaloo, interprete de Ima, estão muito bem em seus respectivos papéis.

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