Paraíso

Crítica: Paraíso (Netflix)

3.5

É muito difícil criar um universo distópico, cheio de especificidades e mistérios e ainda conseguir trabalhar as camadas das personagens com afinco – nem que seja apenas de seu núcleo central. Esta tarefa é cumprida por Paraíso, nova produção alemã da Netflix. Em poucos minutos, a obra consegue colocar o espectador imerso em sua atmosfera, conectando quem assiste com o protagonista e seu plot. Além disso, de forma progressiva, a narrativa vai apresentando a sua crítica social, sem subestimar o espectador.

Neste sentido, é necessário dizer que, a partir do seu terceiro ato, o longa-metragem perde um pouco da sua liga, sem saber ao certo o que fazer com as figuras centrais da trama e com um desfecho um tanto covarde. Todavia, estes fatores não abalam de forma intensa o resultado total do filme, que tem a maior parte da sua duração uma estrutura coesa, com ganchos interligados.  Mesmo que alguns rumos do enredo possam parecer abruptos, inicialmente, é pela emoção que o longa suaviza as tensões e surpresas do conflito principal.

Este é o grande fator que equilibra a sessão de Paraíso: a mistura entre a ação e a tensão da briga entre Max (Kostja Ullmann) e a empresa Aeon, com o amor dele para com a sua esposa. As questões voltadas para os conflitos morais e éticos também fazem parte desta composição balanceada, na qual a dinâmica da suspensão está sempre em jogo, convocando sempre a pergunta sobre qual o próximo limite que Max irá ultrapassar. É nesta lógica que o diretor Boris Kunz (Três Horas) e o fotógrafo Christian Stangassinger (O Falsificador) imprimem a visão de Max na tela.

Paraíso

Utilizando uma transformação constante na temperatura, à medida em que os riscos para Max vai aumentando e as descobertas sobre a Aeon se ampliam, os tons mais suaves e iluminados, do início da exibição, vão desvanecendo e dando lugar para paletas de cores escuras e com o uso de sombras. A decupagem também é afetada por essa mudança de realidade de Max, que vai do conforto e luxo para o desespero e a pobreza material. A movimentação de câmera se intensifica e os planos mais fechados são substituídos por enquadramentos mais abertos.

Uma explicação um tanto simplista, porém bem nítida para visualizar o que ocorre aqui é imaginar que no início da projeção, a sua linguagem se aproxima mais do que se vê no gênero drama e, depois, em títulos de ação. Assim, o abalo e a intensidade do impacto vivido por Max é mostrado imageticamente, revelando uma inteligência não apenas de Boris e de Christian como de toda a equipe.

A maior parte do elenco consegue acompanhar esta transição de ambientação, criando novas faces para as suas personagens, que vão, cada vez mais, mostrando que as fronteiras que são capazes ou não de atravessar. Desta maneira, apesar de Paraíso falhar em criar uma conclusão coerente e digna de sua premissa, o filme consegue construir um universo ficcional coerente e prendar a atenção completamente. 

Direção: Boris Kunz

Elenco: Kostja Ullmann, Lisa-Marie Koroll, Dalila Abdallah

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