O Sequestro do Voo 375

Crítica: O Sequestro do Voo 375

3.5

O Sequestro do Voo 375 narra um episódio verídico ocorrido no Brasil em 1988 quando um maranhense fez passageiros e tripulação de um voo da Vasp para o Rio de Janeiro reféns a fim de fazer o avião atingir o Palácio do Planalto em Brasília e matar o então presidente José Sarney. O filme de Marcos Baldini (o mesmo diretor de Bruna Surfistinha) é uma produção Star que chega aos cinemas com ambições de ser o Voo United 93 brasileiro. A comparação é curiosa porque, como o próprio filme de Baldini contextualiza antes dos seus créditos finais, o caso do sequestro do avião da Vasp foi uma das inspirações de Osama Bin Laden no ataque ao World Trade Center em 2001.

No intuito de ser um genuíno thriller, O Sequestro do Voo 375 é um longa extremamente bem executado, sobretudo do ponto de vista técnico. Baldini também consegue ser objetivo ao desenvolver a trama e distribui muito bem a sua atenção pelo mosaico de personagens envolvidos no caso, administrando o estado de nervos elevados que toma conta de espaços diversos como a cabine onde estão o piloto e o sequestrador, as interações da tripulação e dos passageiros e a torre de controle onde as comunicações com o voo, e consequentemente a negociação, foram feitas. Todas essas múltiplas frentes de ação do filme são bem ritmadas pelo diretor que faz um trabalho muito competente no gênero. Narrativamente, O Sequestro do Voo 375 prende o espectador e, do ponto de vista técnico, o filme exibe toda a sua ação com bastante credibilidade.

O Sequestro do Voo 375

A condução do roteiro de autoria de Lusa Silvestri e Mikael de Albuquerque também é certeira por contextualizar muito bem o sequestro e suas raízes na situação do país, sendo extremamente cuidadoso no tratamento dos seus personagens, evitando, por exemplo, vilanizar a figura de Nonato, o sequestrador do voo. Ainda que vez ou outra exagere no tom grandiloquente e na personificação do heroísmo representado pelo piloto Murilo, o filme evita qualquer abordagem rasa do episódio. O Sequestro do Voo 375 tem seus melhores momentos quando aproxima a realidade das suas três figuras centrais, o piloto Murilo, Nonato e a negociadora Luzia, entendendo o episódio como uma consequência do caldeirão de problemas estruturais da sociedade brasileira, afinal o que motiva o sequestro é o descontentamento com as promessas não cumpridas pelo governo federal de Sarney. .

Além do trabalho excepcional de Baldini, dos seus roteiristas e de toda a equipe técnica, cabe destacar o desempenho comprometido dos integrantes do elenco do filme. Danilo Grangheia tem ótimos momentos como o piloto Murilo, administrando muito bem o medo e o senso de responsabilidade do personagem diante daquela situação. Grangheia tem ótimas cenas com Jorge Paz, intérprete de Nonato, outro destaque do elenco. Paz segue as orientações do projeto e evita vilanizar o personagem Nonato, transformando-o em um sujeito que se transforma em alguém perigoso por força de circunstâncias. Também cabe destacar o trabalho de Roberta Gualda como Luzia, assumindo com profissionalismo e empatia toda a negociação com Nonato.

O Sequestro do Voo 375 acerta por ser um filme repleto de tensão, mas que não explora de maneira sensacionalista o episódio que retrata. Marcus Baldini sabe contextualizar o sequestro do voo da Vasp na década de 1980 e ainda reserva um olhar humano para suas personagens, sem que para isso carregue em um melodrama, que, no caso, não seria bem-vindo. Nesse sentido, mais que um acerto técnico, como anda sendo “vendido”, O Sequestro do Voo 375 sabe alicerçar o seu drama em bases histórico-sociais muito sólidas, garantindo uma experiência surpreendente para quem esperava muito pouco do longa.

Direção: Marcus Baldini

Elenco: Danilo Grangheia, Jorge Paz, Roberta Gualda

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