Halle Berry já esteve no topo do mundo. Primeira e única negra a vencer o Oscar de melhor atriz por seu desempenho em A Última Ceia, de 2001, do diretor Marc Foster, e um dos maiores salários de Hollywood em 2003 pelo terror Na Companhia do Medo, infelizmente, hoje, Berry tem que se contentar com o muito pouco daquilo que a indústria poderia lhe dar. Um conjunto de fatores propiciou seu “declínio”: escolhas equivocadas na carreira como o próprio Na Companhia do Medo e Mulher-Gato, passando por tentativas frustradas de comeback através da colaboração com autores como as Wachowski em A Viagem, incursões trôpegas na TV como a série sci-fi Extant e o próprio fato de que Hollywood é ingrata com estrelas maduras.
Felizmente, Halle é uma sobrevivente e lida com seu próprio declínio com muito espírito esportivo, como na vez em que apareceu pessoalmente para receber o Framboesa de Ouro de pior atriz por Mulher-Gato (pioneira no feito, desculpa Sandy Bullock) ou quando recentemente brincou sobre as críticas ao filme não serem tão justas assim. É com essa mesma consciência de não estar fazendo um filme transformador em sua carreira que Berry, como profissional que é, surge de cara lavada em O Sequestro, um claro retrato do seu lugar em Hollywood, ou seja, daquilo que ela tem recebido como proposta nas telonas nos últimos anos. Um material bem aquém do seu talento, mas que, ainda assim, ela carrega nas costas com um certo empenho.
No longa, Berry interpreta uma mãe divorciada que trabalha como garçonete para sustentar o seu único filho. Durante um passeio no parque após o expediente, a personagem é surpreendida pelo desaparecimento da criança. Quando o encontra ele está no estacionamento do centro de diversões sendo levado por sequestradores para um carro. Imediatamente, ela sai numa perseguição desenfreada atrás do veículo dos bandidos para resgatar o filho por conta própria já que, por insegurança, não acredita muito no êxito da ação policial. O resultado é uma perseguição em alta velocidade pelas estradas dos EUA.
Até chegar aos cinemas americanos, O Sequestro levou cerca de dois anos de molho, já que está pronto desde 2014, ano em que fora filmado. O filme basicamente se sustenta na perseguição de automóveis empreendida pela personagem de Berry que sai desesperada atrás do carro dos sequestradores e passa mais da metade do longa pedindo uma intervenção divina. Em uma hora e meia de duração, o roteiro do filme não oferece elementos o suficiente para manter o espectador envolvido com sua história e com o drama da sua protagonista superficialmente construída. Ao mesmo tempo, as cenas de ação são ritmadas por um olhar burocrata do diretor Luis Prieto, de Contra o Tempo, que chega a ser capaz de produzir um longo plano detalhe da roda do automóvel da protagonista como que por pura obrigação de preencher o tempo protocolar do seu filme.
Halle Berry não é o grande problema de O Sequestro. Pelo contrário, a atriz chega a manter sua dignidade conferindo o mínimo de credibilidade a seu personagem com uma vigorosa performance física, mas chegar ao final desse filme medíocre e ver o seu nome associado a ele (como atriz e produtora) é melancólico. Muita gente torce o nariz para os esforços de Halle em A Última Ceia, uma besteira pois podemos achar que ela não merecia um Oscar mas não que sua performance seja desastrosa, pelo contrário. Do outro lado, há ainda quem a reconheça como um “veneno das bilheterias” em virtude de projetos fracassados como Mulher-Gato, mas simpatizo com a atriz e acho sim que quando bem dirigida é capaz de ofertar ao seu público trabalhos interessantes. Pelos próximos meses, Halle terá oportunidades melhores que O Sequestro. Ela está no elenco do aguardado Kingsman: O Círculo Dourado e no drama Kings, da diretora Deniz Gamze Ergüven (de Cinco Graças), pelo qual, especula-se que Berry pode ter chances de voltar ao Oscar. Fica a torcida.
Assista ao trailer do filme: