O Mal que nos Habita

Crítica: O Mal que nos Habita

3.5

O Mal que nos Habita tem uma trajetória que “desestabiliza” a circulação dominante de obras audiovisuais ao colocar o terror argentino no centro das discussões sobre um gênero cinematográfico ainda dominado por produções estadunidenses. Sem o menor pudor em se assumir enquanto filme de terror, inclinando-se para o gore e não furtando-se de recursos como os famosos jump scare, O Mal que nos Habita Demián Rugna teve uma grande popularidade fora do país e promete ver sua fama aumentar no Brasil com a sua chegada ao catálogo da Netflix após uma breve passagem pelas salas de cinema.

O longa conta a história de uma comunidade rural argentina amaldiçoada por um espírito maligno que contamina tudo aquilo que toca a partir do instante em que um homem infectado pelo demônio não foi liberto dessa maldição. A partir desse evento, estranhas situações acontecem na região, o que incluem animais aparentemente dóceis atacando violentamente as pessoas e cidadãos dados como mortos surgindo como zumbis vagando pelas estradas.

Um dos maiores méritos de O Mal que nos Habita é a direção de Damián Rugna. O diretor consegue sustentar a atmosfera de inebriante temor que toma conta do público e dos personagens. Há uma sensação constante de imprevisibilidade pelo destino dos protagonistas e Rugna não poupa o espectador de imagens que chocam pela brutalidade, funcionando todas para dimensionar uma situação que foge ao controle dos seus personagens humanos, é como se todos descessem a um inferno e ficassem à mercê de forças poderosas que estão além da intervenção humana. Há uma atmosfera febril de pânico e sufocante horror que inebria a história em ascendente.

O Mal que nos Habita

O longa também é marcado por um ótimo trabalho em departamentos técnicos e artísticos exemplares em áreas como efeitos visuais e maquiagem, contribuindo bastante para a imersão do espectador em uma trama cujo horror se alastra em uma crescente. Há destaques como o camponês possuído pelo demônio que tem sobrepeso e um corpo cheio de feridas ou mesmo todas as sequências que envolvem ações violentas como o cão que ataca algumas personagens da história ou a mãe-zumbi que devora um corpo. Tudo isso é tão bem aplicado e serve tão bem à história – e não à vaidade dos seus realizadores- , só eleva o êxito de O Mal que nos Habita.

O Mal que nos Habita é uma amostra de como as cinematografias fora do eixo-hollywoodiano podem expandir suas possibilidades para além do drama e ter resultados superiores a tantos enlatados estadunidenses que ganham popularidade em nosso país com pouquíssima resistência, mas que muitas vezes não merecem a bilheteria que têm. Demián Rugna demonstra extrema habilidade no domínio das marcas do gênero e faz um filme que sabe gerar calafrios e não tem receio de ser extremo em suas decisões.

Direção: Demián Rugna

Elenco: Ezequiel Rodríguez, Demián Salomón, Silvina Sabater

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