Em O Lar das Crianças Peculiares, ter características diferentes dos outros não é motivo para bullying ou afastamento das demais crianças. Ao contrário, cada um tem uma especificidade que faz com que eles possam estar efetivamente neste lugar. Quando Jacob perde seu avô e descobre seu grande segredo, ele fica desesperado para poder ir à fundo e conhecer as pessoas do passado que tanto importaram para o genitor.
Como é de se esperar de um filme de Tim Burton, tudo é muito exagerado e levado ao extremo. Porém, por incrível que pareça, ele parece ter conseguido dosar de uma melhor forma este longa. As similaridades com o mundo dos X-Men e Alice no País das Maravilhas são notórias mesmo para o espectador menos atento. Mas a julgar que a película é baseada em um livro homônimo, a culpa não é toda de Burton, embora o estilo seja característico dele.
A história em si é uma gracinha. Não tão original quanto poderia, mas nem por isso menos atraente. A narrativa vai sendo desenvolvida de uma forma crescente e intrigante, além de que muitas cenas conferem susto real no espectador (até um medinho, se me permitem afirmar). A presença de Eva Green é importantíssima para dar mais fluidez ao roteiro e ela protagoniza um ótimo papel, o da Mrs. Peregrine.
De sua forma, Burton foi deixando a história mais pesada e estranha do que efetivamente é narrada no livro. Um exemplo é o fato de os etéreos se alimentarem dos olhos dos peculiares, enquanto que no livro eles “apenas” se alimentam das pessoas e ponto, sem tamanho detalhe. É possível ver a presença de seus trejeitos em muitos momentos do filme. É satisfatório, inclusive, poder ver o diretor assumindo seu estilo com equilíbrio e sem precisar se podar por conta do sucesso previsto ou esperado pelo longa.
A presença de Samuel L. Jackson como vilão é interessante e funciona muito bem. Ele está realmente assustador, graças à sua maquiagem sombria. Outra grata surpresa e adição é Judi Dench, que tem papel pequeno na trama, mas ilumina o ambiente toda vez que contracena com alguém. A combinação de elenco se mostra acertada e o próprio protagonista, interpretado pelo não tão conhecido Asa Butterfield, realiza um bom trabalho.
A construção do roteiro em si tem seus problemas e pedras no caminho. Algumas cenas são desnecessárias e outras nós sentimos falta. A sensação, no entanto, é que o filme mantém a temperatura do começo ao filme, o que é ligeiramente frustrante. Esperamos por um ápice que chega tão devagar que cansa o espectador, fazendo com que ele nem perceba que aconteceu.
Como análise final, O Lar das Crianças Peculiares é um filme bom e divertido de se assistir, mas que perde enorme potencial e se torna apenas mais um entre tantos. Diferente de A Bússola de Ouro, este pelo menos teve um desfecho, não necessitando de uma continuação para fazer sentido. No entanto, acredito que essa continuação existirá.
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