Após uma notória carreira como curta-metragista, o diretor uruguaio Fede Alvarez teve a sua estreia em longas com um grande desafio: conduzir um remake do cultuado Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, um dos filmes mais célebres da carreira de Sam Raimi antes de se aventurar na trilogia do Homem-Aranha com Tobey Maguire. Chegando aos cinemas em 2013, o longa, intitulado apenas como A Morte do Demônio, não fez feio entre os críticos e os fãs mais ardorosos do clássico dos anos de 1980. Claro que enfrentou toda a natural resistência pela qual passam os remakes, mas não fez feio. Passar por essa prova de fogo com o mínimo de reconhecimento não deixa de ser atestado da competência de Alvarez que fez o que se propôs e o que esteve ao alcance das suas possibilidades em A Morte do Demônio. Liberto dessas amarras comparativas, Alvarez retorna aos cinemas com O Homem nas Trevas, também produção de Sam Raimi, mas uma trama completamente original que confirma o domínio que o realizador possui à frente de histórias repletas de tensão e violência.
O filme tem início com as ações de um trio de adolescentes que invadem casas e levam os pertences das suas vítimas. Como último ato criminoso do grupo, eles decidem planejar um assalto na casa de um homem cego. Acontece que eles são surpreendidos pela reação da vítima e acabam trancafiados na residência do homem, correndo sério risco de não sair de lá com vida, já que o proprietário acaba revelando-se um psicopata cheio de estratégias para proteger o seu patrimônio.
Calcado nessa dinâmica do jogo de “gato e rato”, O Homem nas Trevas tem como trunfo o habilidoso tratamento que Fede Alvarez tem da sua claustrofóbica dinâmica entre os personagens e o único cenário em que transitam, a casa do personagem que dá título ao filme no Brasil. Alvarez enche o seu longa de ritmo com uma montagem eficiente que, ao mesmo tempo, dá conta das múltiplas perspectivas para um mesmo acontecimento (predador e presas) e confere uma tensão ascendente a sua história. O realizador encontra soluções visuais interessantes, como a abertura do filme que gradualmente fecha o plano após uma panorâmica que investe na silenciosa vizinhança do homem cego interpretado por Stephen Lang. Trata-se de um domínio da linguagem audiovisual que, infelizmente, poucos colegas que se aventuram pelo gênero têm.
O roteiro de Alvarez e Rodo Sayagues também demonstra fôlego para engajar o público no desenrolar da sua trama ao criar situações que sempre surpreendem e testam os seus personagens. Com recursos mínimos e marcado basicamente pelas ações dos seus protagonistas, o filme não perde tempo com subterfúgios como dramas pessoais rasos ou tentativas de ir além das “fronteiras” do seu próprio gênero. Alvarez e Sayagues acertam na objetividade com que conduzem seus propósitos de costurar um thriller, calcado na ação dos sujeitos que fazem parte daquela história, mas também por conseguirem prender os olhos do espectador nos acontecimentos exibidos em tela. É a simplicidade executada com muita destreza.
Marcado por uma performance interessante de Stephen Lang, O Homem nas Trevas é, na verdade, um grande cartão de visitas para o seu realizador Fede Alvarez, que demonstra domínio da narrativa audiovisual em uma fita dinâmica e pulsante na produção dos seus efeitos. Levando protagonistas e plateia ao extremo, ao final de O Homem nas Trevas não resta pedra sobre pedra do lado de cá e de lá da tela. Para nós, a sensação que fica é de plena satisfação com a experiência cinematográfica vivida. Já da parte do trio de jovens invasores, fica a lição: nunca subestime um senhor cego que tem um rottweiler como bichinho de estimação.
Assista ao trailer do filme: