Os estúdios americanos insistem em criar novas versões de filmes que foram, originalmente, produzidos em outros países. Esse é o caso de O Grito. O longa japonês de 2004 fez um grande sucesso na época, reunindo fãs de terror. O diretor Takashi Shimizu soube orientar o elenco de forma a criar uma tensão constante no espectador, assim como não se furtava de dar sustos. Nesta versão de 2020, a cautela parece ter tomado conta das cenas, nos apresentando um produto raso e sem propósito.
Começamos o longa com uma mulher fugindo do Japão depois de presenciar movimentações estranhas dentro da casa onde morava. Dá-se início então a uma sucessiva mixagem de períodos. O filme não é linear e nos apresenta anos diferentes e histórias paralelas. O objetivo é que elas se cruzem em algum momento, embora isso não se dê de forma satisfatória.
A ideia dos paralelos de tempo seria criar uma tensão no espectador para o que poderia acontecer mais adiante. Como uma previsão de um futuro que nós já sabemos qual é. O que acontece, no entanto, é uma imensa confusão sem propósito. As mudanças de tempo não são bem feitas, assim como as ambientações de cada ano. Vemos em 2001 carros antigos demais, como se fossem da década de 1980. Para além desses detalhes, as histórias parecem que nunca vão se cruzar. É como se o filme estivesse o tempo todo ensaiando para começar.
Surge aí um grande problema. O Grito tem apenas 90 minutos de projeção e passa praticamente 70 criando o enrendo de uma história, que no final das contas, não é tão interessante assim. É angustiante para o espectador saber que o filme está perto de acabar, quando temos a sensação de que ele nem começou. Personagens vazios, sem carisma, que não causam impacto no público. Para além disso, a sucessão de clichês mal trabalhados prejudica ainda mais a experiência.
Esta é uma temática que está cansada e foi exaurida até onde podia. Para trazer mais um longa, a proposta teria que ser bem inovadora e trazer uma nova roupagem. O que vemos, no entanto, é um filme que tenta se espelhar totalmente no primeiro que fez sucesso, adicionando elementos que não conversam com os demais e deixam o roteiro ainda mais pobre e vazio. Falta, sobretudo, susto e medo. O que é no mínimo estranho, visto que falamos de um filme de “terror“.
Direção: Nicolas Pesce
Elenco: Andrea Riseborough, Demian Bichir, John Cho, Betty Gilpin, Lin Shaye, Jacki Weaver, Frankie Faison
Assista ao trailer!