O Exorcismo

Crítica: O Exorcismo

1.5

Em um intervalo de um ano, Russell Crowe protagoniza o seu segundo filme sobre exorcismo. Sintoma de decadência ou simplesmente de uma tomada de rumo consciente e pragmática na carreira Crowe, O Exorcismo chega aos cinemas com baixíssimas expectativas. O filme sempre esteve longe de ser uma produção caprichada no gênero. Desde o princípio, estava mais para exemplar de um cinema B.

A despeito de quebrar um pouco as baixas expectativas com uma abordagem surpreendente para sua história em seus primeiros minutos, o desenvolvimento cumpre o destino dessa nova empreitada do ator no gênero: O Exorcismo é sim bem ruim. O grande culpado é um desenvolvimento pífio de narrativa que sabota a abordagem interessante de metalinguagem proposta pelo roteiro e faz o filme cair em uma sucessão de clichês, momentos risíveis de atuação e desenvolvimento ruim de história e personagens.

No longa, Crowe interpreta um ator tentando se recuperar de uma crise de depressão profunda depois que sua esposa morre vítima de um câncer. Vivendo com a única filha, Anthony Miller aceita interpretar um padre em um filme de terror sobre exorcismo depois que o ator que viveria o personagem morre nos sets da produção. Miller ainda está superando o alcoolismo, mas encontra no trabalho e na sua reconexão com o catolicismo uma forma de recolocar a sua vida nos trilhos. É claro que nesse meio tempo uma série de fenômenos estranhos tomam conta dos sets dessa produção: parte da equipe morre de forma violenta e misteriosa e o protagonista do longa passa a apresentar um comportamento esquisito.

A ideia de injetar elementos de metalinguagem na trama de O Exorcismo é um esforço bem-vindo dos roteiristas Joshua John Miller e M.A. Fortin. O mote dos realizadores é procurar referências em histórias que transformaram os bastidores de produções do horror como O Exorcista e Poltergeist em lendas da cultura pop contadas até hoje: eventos estranhos nos sets, mortes misteriosas, “maldições” que interromperam ou trouxeram obstáculos para a carreira da sua equipe etc. O Exorcismo parece “beber desta fonte” e apresenta um início bem promissor para o espectador.

O Exorcismo

É uma pena que assim que o personagem de Russell Crowe entra nos sets da produção do fictício filme de terror as coisas para o longa degringolam. Na direção, Joshua John Miller não consegue ter timing para sustentar o suspense em suas cenas e parece também não ter muito traquejo na construção de uma atmosfera apavorante para o público. A maior parte dos recursos utilizados por Miller em suas cenas soam genéricos e não conseguem disfarçar as limitações da produção, como, por exemplo, a cena final que reúne parte do elenco principal para o exorcismo do personagem de Crowe ou mesmo a gravação do filme com o protagonista e a atriz interpretada por Chloe Bailey que evocam a referência visual óbvia em cada frame: O Exorcista de William Friedkin (até mesmo em sua direção de fotografia com tonalidades azuis). Completa falta de imaginação dos envolvidos.

Para completar, Miller parece não dirigir muito bem os seus atores. Russell Crowe, um artista que dispensa apresentações do seu currículo, está ruim, sofrendo com falas medíocres que flertam com uma psicologia barata. Interpretando a filha do ator, Ryan Simpkins também não salva o longa quando sua personagem assume um protagonismo diante da situação do pai. Além deles, atores como Sam Worthington e Adam Goldberg, que já estiveram em produções muito visadas na indústria, têm personagens que surgem e desaparecem de cena da forma mais abrupta possivel, sinalizando que talvez a situação para eles esteja mais difícil do que para Russell Crowe.

Apelando para o pior desfecho possível em filmes do gênero, algo que convoca, inclusive, a lembrança de O Exorcista: O Devoto e o vexaminoso exorcismo ecumênico, O Exorcismo ainda é um filme que utiliza o mote da possessão demoníaca sem mais nem menos, com desleixo. Não há qualquer vinculação temática ou desenvolvimento para o mesmo, a possessão demoníaca é apenas jogada na trama. O personagem de Crowe simplesmente é possuído por um demônio e tudo aquilo parece ser assimilado como plausível sem que mobilize qualquer tipo de conflito ou dúvida nos demais personagens.

Os primeiros minutos de O Exorcismo enganam o espectador, dão a entender que talvez possamos nos surpreender com esta produção e que talvez exista alguma lógica artística na escolha do vencedor do Oscar por Gladiador. No fim das contas, acaba sendo exatamente aquilo que já era aguardado, um grande constrangimento em todas as suas frentes.

Direção: Joshua John Miller, M.A. Fortin

Elenco: Russell Crowe, Sam Worthington, David Hyde Pierce

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