Crítica: O Corvo

1.5

Lançado em 1994, O Corvo é daqueles filmes que infelizmente é mais lembrado pela trágica história dos seus bastidores do que pelas qualidades da obra. Não é para menos, próximo do final das filmagens do longa de Alex Proyas, o ator Brandon Lee foi atingido por uma arma nos sets, vindo a falecer logo em seguida, motivo pelo qual não acompanhou a boa repercussão do projeto quando estreou nas salas de cinema de todo o mundo.

Toda a mítica em torno do filme de 1994 costuma ser mais forte do que outras informações igualmente relevantes sobre o projeto. O Corvo era uma adaptação de uma série de HQ de terror gótico dos anos 1980 de autoria de James O’Barr e contava a história de Eric Draven. O personagem e sua namorada são brutalmente assassinados por um grupo criminoso. Eric consegue retornar dos mortos e resolve se vingar de todos aqueles que destruíram sua felicidade.

Agora pelas mãos do britânico Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador), um diretor bem menos interessante que Alex Proyas (do filme de 1994), O Corvo ganha nova vida com Bill Skarsgaard (It: A Coisa) interpretando o protagonista melancólico outrora vivido por Brandon Lee. O resultado não chega a ser catastrófico como anunciado por muitos, mas é completamente apático.

O Corvo de 2024 é um filme que se arrasta em busca de algum tipo de carisma que consiga sustentar o interesse do público pela história que é contada na tela. Sanders, que lidou de forma correta com um universo fantástico em Branca de Neve e o Caçador, confere uma estética excessivamente sóbria e realista para um longa que flerta bastante com o sobrenatural. As passagens de Eric na realidade paralela que lhe confere poderes sobre-humanos é criada com total falta de imaginação pela equipe de design de produção desta versão de O Corvo.

Os sinais da condução protocolar do projeto também estão no tratamento morno que Sanders confere a seus personagens. Heróis e vilões são construídos sem o menor traço de humor ou humanidade, parecem corpos que simplesmente perambulam e existem naquele universo para sua própria infelicidade (e do espectador também). O casal protagonista interpretado por Bill Skarsgaard e por FKA Twigs tem um romance que não inspira torcida, o que é grave, já que, na essência, O Corvo é um romance trágico e seria fundamental que o filme inspirasse algum tipo de engajamento do público na jornada de vingança de Eric Draven. Além disso, o vilão interpretado por Danny Huston (escalação bastante óbvia, por sinal) também apresenta o mesmo tom burocrático dos heróis da história, não inspirando qualquer tipo de sentimento no espectador, como raiva ou temor.

A sensação que O Corvo de 2024 passa é a de ser um projeto sem “alma”, que existe apenas porque o estúdio achou que fosse uma boa ideia explorar um projeto que possui algum tipo de valor afetivo para o público. Dirigida no automático por um diretor que não exibe a menor energia em cada movimento da sua história, a sensação que causa é de completa indiferença. O Corvo é um longa que nunca parece mover esforços para conquistar a plateia, apenas existe.

Direção: Rupert Sanders

Elenco: Bill Skarsgård, FKA Twigs, Danny Huston

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