Quando descobre ainda cedo que seu filho sofre de um tipo de autismo, a família Wolff resolve levar o pequeno Christian em uma clínica psiquiátrica que lida com crianças especiais. Quando o médico responsável propõe um tratamento para inclusão do menino na sociedade, para que ele tenha uma vida normal, o pai se posiciona contra e afirma que ficará responsável pela criação do menino. Anos se passam, e Christian é um homem responsável por sua própria vida. Ele é contador e lida tão bem com números quanto é estranho com pessoas.
O longa então começa a mostra a vida adulta do menino e como ele lida com suas manias e transtornos compulsivos por organização. Ele tem uma necessidade extrema de finalizar tudo que começa e acaba se tornando um excelente profissional, daqueles extremamente dedicados e empenhados em oferecer o melhor serviço. Esse perfeccionismo o levou a trabalhar com todo tipo de gente, incluindo as perigosas que precisavam confiar 100% em alguém para cuidar de suas finanças.
Sem entrar em mais detalhes do roteiro principal para não dar spoilers, é preciso compreender que o foco acaba todo sendo em Ben Affleck e é inevitável uma lembrança e rápida comparação com seu último personagem em Batman. Neste filme, ele também é um menino que sofreu na infância com uma criação difícil, teve treinamento de luta e violência, aprendeu a atirar e atualmente ganha a vida sendo rico e discreto realizando serviços ilícitos. Qualquer semelhança, deveria ser uma mera coincidência. Não fosse o mesmo ator.
O diretor Gavin O’Connor consegue guiar a história de forma a criar um ápice muito interessante, é bem verdade. No entanto, em diversos momentos, é tanta informação passada para o espectador, que fica um tanto confuso. As nuances que são criadas em torno da personalidade do protagonistas variam de maneira muito brusca e, por um lado é excelente porque mostra claramente sua razão de ser, mas por outro não o consolida tanto quanto possível.
Ainda assim, Affleck segue sendo uma boa escolha, ao meu ver. Ele vem se mostrando em crescente desenvolvimento artístico e o resultado fica claro nas telonas. Basta tirar um pouco do preconceito que muitos críticos têm com ele para perceber isso. E Anna Kendrick, uma querida para mim, ilumina a sobriedade do longa. Ela dá um tom mais leve e cômico, mas sem perder seu talento e mostrando sempre para o que veio. J. K. Simmons também integra o elenco principal e dispensa qualquer tipo de comentário, embora pudesse ter um pouco mais de destaque na trama.
O filme tem uma narrativa bem interessante e lembra muito o estilo de produção do início dos anos 90, que produziu excelentes longas de ação e suspense, como O Chacal. No entanto, diferente deste, O Contador tenta se atualizar com piadinhas e romance meio sem nexo ao longo da trama, perdendo um pouco de sua credibilidade como roteiro. Além de tudo, o longa demora para engatar, entediando um pouco o espectador. Apesar do grande potencial, o diretor perde o fôlego na segunda metade da trama e nos oferece cenas previsíveis, conclusões óbvias demais e diálogos pouco atraentes.
Ainda assim, o espectador é presenteado com uma cena fantástica que é o sonho de consumo da maioria quando um vilão começa a querer discursar demais. Não entrarei em mais detalhes para não perder a graça, mas é um dos pontos altos do filmes, certamente.
A questão do autismo poderia ter sido melhor trabalhada, mas claramente não era o foco primordial. Ali era apenas uma desculpa para criar toda aquela circunstância de isolamento do protagonista. O espectador fica carente, no entanto, de mais informações. Ainda assim, é um filme que vale ser apreciado e que certamente irá entreter a maioria dos espectadores que forem conferir.
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