O Clube das Mulheres de Negócio

Crítica: O Clube das Mulheres de Negócio

2.5

Em O Clube das Mulheres de Negócio, Anna Muylaert dirige uma sátira sobre um grupo de mulheres poderosas que se reúne ocasionalmente em um resort construído para isso. Nesse encontro específico, um jovem jornalista e um fotógrafo querem realizar uma matéria com algumas das sócias dessa organização, mas as coisas fogem do controle e uma ameaça externa põe em risco a vida de todos que estão nesse local.

O Clube das Mulheres de Negócio funciona como um comentário ácido sobre o patriarcado no qual Muylaert inverte os papéis e coloca as personagens femininas como detentoras do poder oprimindo os homens da história. Todas as mulheres da trama são extremamente ricas, vinculadas a áreas como o agronegócio, a indústria de armas, a religião e a política. Em suas relações com o sexo oposto, elas objetificam os homens silenciando esses personagens ou mesmo realizando assédio moral e sexual. A representação masculina da comédia fica por conta sdos atores Rafael Vitti e Luís Miranda, especialmente o primeiro, o jovem herdeiro de uma das ricas da história que escolhe romanticamente uma profissão distante do seu círculo social e é alvo de abordagens inconvenientes pela sua bela aparência.

À primeira vista, a troca de papéis sugerida por Muylaert parece um fator original da história, mas, no fundo, O Clube das Mulheres de Negócio tem uma ideia que só aparenta ser singular. No desenvolvimento, o comentário do longa sobre a lógica de opressão do patriarcado não sai da superfície, apoiando-se no estranhamento primário do público com situações como a “rainha do gado” interpretada por Grace Gianoukas escancaradamente assediando o “foca” vivido por Rafael Vitti e, posteriormente, este personagem assimilando os efeitos psicológicos desta terrível e traumática experiência.

O Clube das Mulheres de Negócio

Com a sátira de O Clube das Mulheres de Negócio, Anna Muylaert sinaliza como o patriarcado tem mais relação com as estruturas de poder do que com o gênero. O gênero é mais uma questão de quem historicamente consegue ter mais acesso às instâncias de poder. Assim, as mulheres do longa são capazes de cometer os mesmos atos que vemos muitos homens realizarem na realidade fora da tela porque encontram uma realidade que as privilegia. De certa forma, é um ponto de vista didático para quem nega o tópico como um problema social que merece atenção (especialmente homens), mas fica o desejo de que a realidade alternativa criada pela cineasta fosse um pouco além do óbvio.

Há ótimos momentos para o seu talentoso elenco, com três destaques específicos: Grace Gianoukas como a inescrupulosa dona de cabeças de gado Yolanda, conduzindo uma das cenas de maior impacto do filme; Cristina Pereira tem bons diálogos como a presidente do clube Cesárea; e Katiuscia Canoro está completamente delusional como a fêmea alfa armamentista Zarife.

Para um filme que flerta com a subversão de lógicas e com o absurdo das situações, O Clube das Mulheres de Negócio é extremamente contido. Até mesmo o humor é algo que o projeto encontra dificuldade para manejar e isso espanta por falarmos de um filme que flerta desde o primeiro instante com a crítica social e com a construção de uma realidade hipotética. Assim, além de outras faltas, o longa perde a chance de explorar o timing cômico de um elenco com grande experiência no gênero, completando assim o rol de oportunidades perdidas por esta história.

Direção: Anna Muylaert

Elenco: Rafael Vitti, Luis Miranda, Irene Ravache

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