Crítica: O Agente da U.N.C.L.E.

pegasus_LARGE_t_1581_106482189
Trio: Da esquerda para a direita, Armie Hammer, Alicia Vinkander e Henry Cavill são o centro da história do filme

 

Até chegar aos cinemas, O Agente da U.N.C.L.E. teve uma trajetória tortuosa. O filme baseado na  série homônima de TV dos anos 60 quase foi protagonizado por atores como Tom Cruise, George Clooney e Channing Tatum. O projeto esteve por anos nas mãos de Steven Soderbergh, que logo saiu da direção para seguir com a sua “aposentadoria” do cinema e deixou a cadeira vaga para Guy Ritchie. Com a saída de Soderbergh, a escalação do elenco ganhou novos rumos e Ritchie escolheu Henry Cavill (o Superman de O Homem de Aço) e Armie Hammer (de O Cavaleiro Solitário e A Rede Social), para interpretarem os agentes Napoleon Solo da CIA e Illya Kuryakin da KGB, respectivamente.

Esta trajetória cheia de reviravoltas de O Agente da U.N.C.L.E. poderia ter um desfecho mais feliz não fosse a gélida recepção do filme nos EUA. A crítica oscilou entre a reprovação e a indiferença e o público não foi assistir ao longa no seu final de semana de estreia, fazendo-o amargar o terceiro lugar nas bilheterias. Uma pena pois o resultado não é tão catastrófico assim.

XXX MAN UNCLE MOV JY 1187 .JPG A ENT
Desarmônico: Falta um pouco de química na dupla principal

 

O Agente da U.N.C.L.E. tem como centro da sua narrativa o ódio mortal entre os agentes Napoleon Solo (da CIA, EUA) e Illya Kuryakin (KGB, União Soviética) em plena Guerra Fria. Os dois acabam sendo obrigados a unirem forças para combaterem uma organização que tem o intuito de desenvolver armamentos nucleares. A improvável união acaba fazendo com que seja criada uma nova organização, a U.N.C.L.E..

Sob a enérgica e vibrante direção de Guy Ritchie, O Agente da U.N.C.L.E. adapta a estrutura e a abordagem dos filmes de espionagem dos anos 60 ao estilo “moderninho” do realizador. O longa está longe de ter o aproach sisudo e sombrio dos filmes do 007 mais recentes e está mais próximo de um descompromisso que era a marca dos longas do seu gênero. Ao formato, Ritchie injeta a sua montagem clipeira e sua vocação para escolher trilhas sonoras certeiras, ambientando a trama no espírito da época através de artistas como Nina Simone,  Ennio Morricone e até o brasileiro Tom Zé (!), o que faz com que o filme seja muito charmoso.

cavill-debicki-man-from-uncle
Charme: Direção e trilha que o transformam filme em uma experiência bem agradável

 

O ponto fraco do longa talvez seja o desnivelamento dos desempenhos dos seus dois protagonistas. Enquanto temos um Armie Hammer muito interessante na pele do explosivo e anti-social Illya, Henry Cavill não se acerta como o cafajeste bon vivant Napoleon. Por esse motivo fica tão evidente a falta de encaixe entre os dois atores na tela, Cavill parece não acompanhar o timing cômico de Hammer e aquele que poderia ser o elemento responsável por dar uma maior consistência à narrativa parece nunca estar presente. Completam o elenco, Alicia Vinkander (ótima na pele de Gaby, a dúbia protegida da dupla de agentes), Elizabeth Debicki (que surge igualzinha ao seu desempenho em O Grande Gatsby) e Hugh Grant (razoável como um personagem que poderia ser aproveitado em sequências que, pelo rumo da recepção do filme, podem não acontecer).

O Agente da U.N.C.L.E. não merece o destino que anda tendo. É old fashioned, mas também é muito contemporâneo, trabalhando com uma variação interessante do seu gênero. É claro que existem determinados elementos que o enfraquecem como a desajustada interpretação de Henry Cavill, uma certa displicência do roteiro com alguns dos seus personagens e a sua excessiva duração, mas é um filme de espionagem divertido e que se sustenta graças à direção sempre eficiente de Guy Ritchie.