Morando Com o Crush

Crítica: Morando Com o Crush

3.5

Leve, divertido e distraído, Morando Com o Crush é a nova comédia romântica adolescente brasileira, em cartaz nos cinemas. Dois elementos centrais fazem esta farofinha funcionar: a química dos casal principal e o talento da protagonista Giulia Benite (Turma da Mônica – Laços), que interpreta a Luana. Talvez, para os fãs saudosos do elenco do live action de Turma da Mônica, os primeiros minutos de projeção sejam empregados para uma fanfic mental, de como Giulia e Vitor Figueiredo (no papel de Hugo), seriam ótimos Mônica e Cebolinha.

Passado este instante imaginativo, vem uma provável conexão do público com a trama do filme. A premissa é um tanto criativa. Apesar de se encaixar no clichê das romcoms “situação atípica que une casal”, a ideia de colocar o ship em uma cidade pacata, dividindo a mesma casa, porque o pai de uma e a mãe do outro estão namorando e vão se mudar por conta trabalho, é inventiva. Além disso, a maneira como o enlace dos dois é construído faz sentido dentro de toda a confusão que eles se envolvem. 

Geralmente, neste tipo de história, situações pouco prováveis fazem com que o par se apaixone e vá entendendo isso lentamente. Aqui, a escolha de Luana e Hugo já se gostarem antes das peripécias e precisarem lidar com suas emoções, por conta destas aventuras, garante certo aprofundamento, não apenas no desenvolvimento do próprio romance deles, como das suas individualidades. Questões sobre luto, perdas e transformações da adolescência perpassam o roteiro, sem pesar o enredo.

Neste sentido, somente o desfecho do longa-metragem poderia ser mais amarrado. Não é de todo mal, porém é um tanto apressado, fazendo com que haja uma aceleração abrupta na resolução dos conflitos. Para completar, apesar deste universo ser prazeroso de acompanhar, falta ao diretor Hsu Chien Hsin (Desapega!) e ao montador Marcio Papel (Verona) se arriscarem mais. Morando Com o Crush é voltado para um público jovem, que talvez se incomode com a ausência de mobilidade da câmera, dos planos mais longos e dos poucos cortes que são ofertados. 

Morando Com o Crush

Falta imprimir na tela a leveza que o elenco coloca em cena e a do próprio roteiro, que possui uma linguagem jovial, despretensiosa, com uma dose de gírias, por exemplo, que não é exagerada, porém que é salpicada nas falas das personagens. Isto porque, ainda que o cinema seja para todes, cada produção tem o seu enfoque e, algumas vezes, uma plateia de nicho. A partir do que é posto pelo plot do longa, seria realizável o investimento no uso de recursos como outras angulações ou quadros mais curtos. Este incômodo só é suavizado durante a sessão por conta do trabalho da equipe de arte. 

Cenografia, figurinos, objetos cênicos etc contam com cores e estilos solares e de tons mais abertos, que reduz a seriedade da decupagem e do trabalho feito na mesa de montagem. Por fim, uma outra questão que chama a atenção é a iluminação. Faltou ao fotógrafo Alexandre Berra (Janeiro 27) – e a Hsin também – um apuro de posicionamento de câmera e luminosidade. Em diversas sequências, há sombras nos rostos dos atores ou a luz está estourada. 

Talvez, direcionando o quadro para outro sentido, mexendo nos refletores, usando uma borboleta ou algo semelhante, a exibição se tornaria mais agradável. Algumas imagens também ficam chapadas pela falta de contorno da luz e do jogo com ela. Desta maneira, este departamento poderia ter executado melhor seu processo de criação. Ainda assim, no contexto geral, Morando Com o Crush é uma boa pedida para a garotada, em um sábado à tarde – ou para pessoas românticas, de trinta e poucos, como essa que vos escreve. Entre pequenos erros amadores, é a empatia pelas personagens, a fofura e o carisma do ship central e a melosidade adolescente que fazem a projeção ser excelente.

Direção: Hsu Chien Hsin

Elenco: Giulia Benite, Vitor Figueiredo, Marcos Pasquim

Assista ao trailer!