Meu Casulo de Drywall conta a história de Virgínia, uma adolescente que promove a festa do seu aniversário de 17 anos em seu apartamento em um condomínio de classe média onde vive com os pais. Uma tragédia acontece na festa e todos os personagens do filme passam a lidar com a assimilação desse evento. Ao longo desse processo, o espectador descobre que os moradores daquele condomínio escondem alguns segredos e há também um mistério em torno daquilo que levou ao grande acontecimento da festa de Virgínia.
O ponto de partida do filme de Caroline Fioratti é bastante promissor. Meu Casulo de Drywall faz uma crítica social aos padrões de comportamento de uma classe média alta, sobretudo à criação que os pais desse estrato social dão a seus filhos, sempre cheios de privilégios, mas emocionalmente carentes. Assim, no mosaico de personagens do filme, Fioratti explora como adultos alienados em suas redomas de luxo, cheios de preconceitos e completamente alheios a realidade do país, forjam jovens inseguros, deprimidos, fúteis e dependentes, perpetuando em gerações futuras padrões comportamentais extremamente nocivos que replicam problemas sociais do Brasil.
A premissa de Meu Casulo de Drywall é ótima e traz para Fioratti pistas para o desenvolvimento de uma excelente história. A diretora e roteirista parece compreender a semente de determinadas tensões na sociedade brasileira preenchendo sua trama com figuras como homens agressivos com suas esposas e ausentes no ambiente familiar, militares que entram para a política e criam um contexto doméstico extremamente opressor para seus filhos, donas de casa viciadas em anti-depressivos, famílias alienadas por dogmas religiosos etc.
A grande questão é que muitas vezes o filme entra em conflito com suas próprias pretensões, também flertando com o melodrama através da tragédia familiar que toma conta da casa da adolescente Virgínia, especialmente o luto vivido pela sua mãe interpretada por Maria Luisa Mendonça. Além disso, há também a melancolia dos adolescentes, absortos em crises existenciais em meio aos privilégios que, inicialmente, o filme observa com bastante acidez. Meu Casulo de Drywall então passa a desejar não apenas a crítica social, mas também comover o público, criando algum tipo de empatia com aqueles personagens que a princípio observa com desdém, o que parece conflitar bastante a cabeça de um espectador que vinha assimilando aquela história por um outro tipo de condução da sua realizadora.
Os atores estão bem no filme. O jovem elenco consegue desenvolver muito bem cenas mais delicadas, destacando a protagonista Bella Piero, além de Daniel Botelho, que interpreta o adolescente “revoltado” Gabriel, e Michel Joelsas, o namorado de Virginia que esconde a homossexualidade por receio da reação do pai militar. Ao mesmo tempo, o grupo de atores veteranos, em especial Maria Luisa Mendonça, que vive a mãe da protagonista, consegue dar a substância dramática necessária ao material.
Por vezes, falta sutileza a Meu Casulo de Drywall, que muda de forma muito brusca os humores da sua história, desejando construir muitas “chaves” de acesso para aquele drama, o que, no final das contas, acaba prejudicando muito mais aquele projeto do que ajudando. É um filme que explora um estrato social adoecido pela sua própria alienação, mas que também revela uma preocupação muito forte com o ponto mais frágil desse microcosmo, a juventude. Esta conciliação de desejos nem sempre é orquestrada com harmonia pela obra, resultando em um filme que, apesar de muitos méritos, encontra muita dificuldade para deixar alguma marca mais precisa no espectador.
Direção: Caroline Fioratti
Elenco: Maria Luisa Mendonça, Bella Piero, Michel Joelsas
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