Me Sinto Bem Com Você

Crítica: Me Sinto Bem Com Você (Prime Video)

3.5

Com a pandemia mundial do Coronavírus, entre todos os percalços profundos, alarmantes e trágicos, as pessoas que cumpriram o isolamento social, de verdade, se viram afastadas de entes queridos ou precisaram lidar com a presença constante deles. Dentro de todo este contexto, presos em casa, como fazer para começar ou manter um relacionamento amoroso, com tanto caos e sentimentos transbordantes? O que seria genuíno ou carência? O que fazer com a saudade e a necessidade de contato físico? Ou, ainda, como apoiar e manter a conexão com um familiar que está distante?

Me Sinto Bem com Você trata, justamente, sobre este momento da sociedade. Para falar de tal tema, p público vê a trajetória de cinco duplas que vivenciam a experiência de viver a quarentena, procurando firmar, construir ou não perder laços, seja do passado ou do futuro. Nesta lógica, têm-se quatro casais românticos e um par de irmãs. Entre chamadas de vídeo e impossibilidades, o que mais chama atenção aqui é como todas as histórias conseguem criar uma noção de proximidade e identificação com o espectador.

Neste sistema de múltiplas narrativas, talvez, este seja o elemento mais difícil de alcançar. Com o tempo de tela dividido, geralmente, neste tipo de filme – como Babel (2006), Idas e Vindas do Amor (2010), Mulheres Alteradas (2018), entre tantos outros –, o que mais acontece é uma falta de equilíbrio qualitativo. Geralmente, algum enredo é menos explorado e possui algum buraco no roteiro. No entanto, em Me Sinto Bem com Você. ainda que tenha algumas questões complicadas, no geral, há um cuidado em apresentar e desenvolver cada plot inserido na obra.

As emoções e reflexões das personagens são postas de maneira nítida e as complexidades delas são bem trabalhadas, seja nas indecisões de Eduardo (Richard Abelha) e Helena (Amanda Benevides), no amor e ódio de Dora (Thati Lopes) e Fernando (Victor Lamoglia),  a compreensão de Giovanna (Gabz) e Priscila (Clarissa Müeller) do que pode ser um novo romance, como Vanessa (Thuany Parente) e Lívia (Bel Moreira) se ajudam a superação do luto ou nas idas e vindas de Adriana (Manu Gavassi) e Tom (Matheus Souza). Cada papel e relação são apresentados com dinamismo, relevando as dúvidas, certezas e as emoções diversas de todos estes pares. É por esta razão que o espectador consegue se enxergar dentro de todas ou, pelo menos, alguma daquelas situações, porque o amor é complexo, exige muito das pessoas, sobretudo quando se vive em um isolamento social tão perturbador como este do último ano.

Me Sinto Bem Com Você

Este olhar apurado para os relacionamentos humanos em Me Sinto Bem com Você ganha muito com a sensibilidade da direção de Matheus Souza (Ana e Vitória) – também no elenco do longa-metragem. A sua decupagem é criativa e consegue criar uma química maior entre cada par visto no ecrã. A escolha de quadros e de movimentação da câmera imprimem as sensações exatas das personagens, transmitindo quando eles sentem euforia, solidão, raiva e felicidade de maneira imagética. Neste ponto, a fotografia de Camila Cornelsen (Amores Urbanos) dialoga diretamente com esta característica. A luz expressa sentimentos diretos de cada figura em cena e como seus pensamentos estão afinados ou destoante durante cada sequência.

No entanto, estas mesmas questões apontadas como positivas, acabam por interferir negativamente também. A combinação desta intensidade na investigação das relações e compartilhamento de reflexões e sensações, acabam pesando, a partir da metade do longa. Existem poucas quebras deste tom evocativo e confessional. O mesmo pode ser dito sobre os aspectos visuais. A personalidade deles é forte e isto é importante para a construção de atmosfera, mas termina por cansar as vistas do público. Para que ocorra uma apreciação completa de instantes nos quais uma iluminação se destaca, por exemplo, é preciso que ela não seja tão expressiva o tempo inteiro.

Desta maneira, é neste quesito que Me Sinto Bem com Você falha. Em toda a sua intenção de performar o sensível, através de diálogos cheios de significados e imagens apuradas, a produção exagera. Mesmo assim, por colocar em pauta o amor, em tempos tão complicados, de uma forma perspicaz e sensível, ainda que cansativo, ele vale ser conferido.

Direção: Matheus Souza

Elenco: Manu Gavassi, Matheus Souza, Amanda Benevides

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