Crítica: Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo

Apesar de ter como fonte de inspiração personagens e eventos reais, a biografia Mais forte que o Mundo – A História de José Aldo é um longa cujos protagonistas e suas motivações e dinâmicas funcionam sob uma lógica artificial. Dirigido por Afonso Poyart, que fez fama com o inventivo 2 Coelhos e esteve no circuito recentemente com seu primeiro longa internacional, Presságios de um Crime, com Anthony Hopkins e Colin Farrell, Mais forte que o Mundo – A História de José Aldo é uma biografia “basicona” em sua narrativa linear que narra a trajetória do lutador de MMA José Aldo, da juventude problemática em Manaus até sua chegada ao Rio de Janeiro, onde conseguiu ser descoberto por um treinador, formou uma família e encontrou enfim a paz que sua infância e adolescência ao lado do pai alcoólatra não lhe dava.

Como aconteceu até aqui na carreira de Poyart, Mais forte que o Mundo é dado a algumas “invencionices” do diretor. O realizador aposta em inesperados movimentos de câmera, certos efeitos imagéticos, uma montagem acelerada, uma trilha sonora eclética e pop que vai da composição de Ennio Morricone para Era uma vez no Oeste a interpretações de Lenine e Lorde para clássicos da música brasileira e estrangeira… Tudo isto seria muito bem-vindo ao filme, caso a história acompanhasse toda essa natureza subversiva do diretor em uma trama que incorporasse tais elementos de maneira orgânica e que fizesse todos eles estarem à serviço da evolução dos seus personagens e dos propósitos do roteiro. Isto, infelizmente, não acontece na maior parte da projeção.

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Escrito pelo próprio Poyart e por Marcelo Rubens Paiva, o roteiro de Mais forte que o Mundo é repleto de lacunas que não conseguem ser preenchidas pelo espectador pois o filme não aciona pistas nem desenvolve as relações de alguns dos seus principais personagens a contento. O principal deles é o seu biografado, o José Aldo, que já não tem o auxílio da interpretação de José Loreto, pouco eficiente no papel. Se entendemos e nos comovemos com sua história com seu pai e como a raiva vinda desta relação conflituosa funcionou como combustível para sua vida e carreira, o êxito de tais propósitos vem por outras vias, a força de Jackson Antunes, intérprete do pai de Aldo no filme. Sobre o protagonista e seu intérprete, por sua vez, custamos mergulhar na sua alma, sentir empatia por ele e entender seus sentimentos e relações, sobretudo quando é colocado em destaque sua convivência com a namorada/esposa Vivi, interpretada por Cleo Pires, e seu atrito com um grande rival, marcado pelo questionável desempenho de Rômulo Neto (ao final, o personagem revela-se muito mais que isso).

Assim,  sob uma lógica estranha e superficial de motivações e relacionamentos, os personagens do filme são movidos por sentimentos que não saem do território do “instinto” quase que matemático ou da grande “chave” de entendimento do filme “a raiva é um grande combustível” ou “Aldo é um reflexo do temperamento instável do seu pai”. Ir um pouco além destes chavões não faria nenhum mal a biografia, pelo contrário. Era preferível investir mais neste aspecto do que na escalação aleatória de Rafinha Bastos, Paulo Zulu, Thaila Ayala e Felipe Tito para personagens que pouco acrescentam na história e que parecem estar ali sob a mesma lógica que regiam os filmes da Xuxa ou do Renato Aragão na década de 1980 e 1990: participações especiais de celebridades como o grupo Dominó, Faustão, Vinny acreditando que isso torna a história mais “vendável” para o público. Não precisava, a vida do seu biografado fala por si só. Caso tivesse investido mais tempo e ido ainda mais a fundo na relação de Aldo com seu pai e, além disso, administrasse melhor o tema da raiva como o motor do seu personagem, inclusive quando opta por uma abordagem mais psicológica para a questão, sugerindo um aprofundamento da mesma, Mais forte que o Mundo seria um grande filme, inclusive porque Afonso Poyart tem competência técnica para isto, como já evidencia toda a sua carreira e é confirmado em momentos isolados aqui.

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