Mãe Terra

Crítica: Mãe Terra

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Estreia da diretora e roteirista Savanah Leaf, Mãe Terra narra a história de Gia, uma jovem negra mãe solteira de quatro filhos, um ainda na sua barriga. Gia foi afastada das suas crianças pelo governo e tem que lutar para reaver os filhos enquanto lida com a gestação e com as dificuldades para se manter. A história da jovem se junta a tantas outras em situação de vulnerabilidade que acompanhamos no longa e que dão os seus depoimentos em grupos de apoio mediados por uma assistente social.

Mãe Terra é um filme que propõe dimensionar a realidade de jovens como Gia e que tenta resgatar a dignidade das suas jornadas. A cineasta aborda indiretamente o processo de adoção trazendo uma perspectiva do outro lado do sistema, mães que têm que ceder seus filhos a famílias que podem criá-los por terem mais condições socio-econômicas que elas. O título Mãe Terra aponta para a ideia desenvolvida pela diretora que coloca essas jovens mulheres como grandes provedoras do mundo, mesclando imagens de um cotidiano urbano dessas personagens com construções metafóricas que colocam sua protagonista em paisagens naturais. Mãe Terra tem esse compromisso humanístico latente de ressignificar a auto-estima dessas mulheres e por esses esforços reconhecidos pela crítica, inclusive,  Leaf ganhou destaque recentemente ao vencer o BAFTA na categoria melhor estreia de um realizador britânico em longa-metragem.

Mãe Terra

Para contar a história de Gia, Savanah Leaf opta por uma abordagem crua, que dispensa qualquer filtro mais estilizado na sua direção de fotografia. O olhar da diretora também evita o sensacionalismo na dramatização da jornada de Gia, aproximando a obra de uma abordagem mais realista. Isso é perceptível sobretudo no desempenho do seu elenco, atores que primam por uma performance mais comedida que só engrandece seus respectivos esforços. Destacam-se Tia Nomore, cortante como uma protagonista que lida com muitas frustrações, e Erika Alexander, destaque no recém-oscarizado Ficção Americana e que aqui vive uma assistente social que dá suporte para Gia.

Em Mãe Terra, Savanah Leaf denuncia uma triste realidade que se perpetua por gerações. Há decisões acertadas na abordagem, cujo principal mérito é o olhar empático da diretora, mas não podemos dizer que Mãe Terra prima por uma originalidade. Com seu approach realista, inclusive com o uso de atores desconhecidos de grande parte do público, o que, melhora a experiência, é verdade, Mãe Terra também tem como ponto negativo a reiteração da sua abordagem na temática e na forma de apresentá-la.

Ainda assim, mesmo que boa parte dos méritos de Mãe Terra não destaquem o projeto como uma abordagem original, é um filme que acerta na sua condução. Acerta sobretudo por contar com um olhar extremamente sensível da sua diretora e de um grupo de atrizes que jamais julga suas personagens e que opta por uma economicidade cênica capaz de comover o espectador e evidenciar o olhar afetuoso de todos os artistas envolvidos no projeto.

Direção: Savanah Leaf

Elenco: Tia Nomore, Erika Alexander, Doechii

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