M3gan

Crítica: M3gan

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Histórias de terror jogam com as crenças da humanidade. É curioso observar como certezas dentro da sociedade são escanteadas para que novos medos e reflexões sejam postas em jogo. Pelo menos essa é uma das tentativas do gênero. Em M3gan o público se depara justamente com algo deste tipo. Vê-se então junção de duas figuras assustadoras: a boneca assassina e o robô vingativo. Neste sentido, a ideia de reunir os dois elementos faz sentido e poderia render uma boa narrativa.

No entanto, o longa-metragem falha em estabelecer uma atmosfera de suspensão e progressão da tensão, principalmente por conta da contenção de riscos da direção. O cineasta Gerard Johnstone (Housebound) parece ter receio de se arriscar e perde a oportunidade de se entregar ao tosco e/ou ao sanguinolento. O estabelecimento de atmosfera demora para acontecer e a figura da M3gan (Amie Donald/Jenna Davis) é enfraquecida seja pela própria mise-en-scène ou pela decupagem.

Talvez, planos mais fechado, que jogassem com a presença da boneca psicopata ou um trabalho com a fotografia, no qual fosse criado um jogo de sombras ajudasse na composição e Johnstone. Não há exatamente uma regra para fomentar a tensão dentro do terror, mas é preciso que esta sensação seja passada para o público, o que não ocorre aqui. Nem mesmo o desenho de som ou as músicas que compõem a trilha criam esta ambientação de perigo, pavor ou qualquer coisa parecida.

M3gan

O que salva o filme, na verdade, é a relação das duas figuras centrais: Gemma (Allison Williams) e Cady (Violet McGraw). O relacionamento de tia e sobrinha, juntamente com a tentativa de superação de luto de ambas é elaborado com camadas de emoções e transformação de personalidade das duas. É possível acompanhar o desenvolvimento destas personagens, em suas trajetórias individuais e na criação do laço afetivo delas, saindo da posição de rejeição para aproximação completa. Mas, não há tempo da dinâmica entre elas ser explorada, porque há o grande plot que é M3gan. Então, o roteiro fica um tanto no meio do caminho. 

Ao mesmo tempo, apesar de suas falhas, há uma coragem dos roteiristas em ultrapassar limites, fazendo com que o espectador seja surpreendido, como na escolha de quem irá morrer ou não – até criança e cachorro são assassinados. As cenas mais impactantes, inclusive, são as que contém estes crimes iniciais de M3gan. Contudo, o poder destes momentos se esvai justamente porque falta estilística da direção, de quem fez a composição sonora e da fotografia também.

O longa poderia ir mais além, pensando que o argumento de James Wan (Invocação do Mal) e Akela Cooper (Maligno) traz uma boneca do mal, que controla todos os aparelhos eletrônicos do planeta, o grau de suspense e de terror poderia ser muito maior.  O único momento realmente intenso da projeção é quando o body horror entra nos instantes finais da obra. A luta entre M3gan, Cady e Gemma também conta com mais recursos sonoros e de câmera, o que aumenta o potencial de angústia que a briga passa. Por isso que, no final das contas, a produção não é exatamente ruim, porém não chega a ser boa.

Há aqui um resultado morno, que decepciona porque este é um material que poderia empolgar se fosse menos contido. Talvez, se o James Wan tivesse assumido a direção seriam entregues momentos com dolly zoom, travelling com zenital e tantos outros efeitos e escolhas de direção que fariam com que M3gan fosse realmente creepy. 

Direção: Gerard Johnstone

Elenco: Allison Williams, Violet McGraw, Amie Donald

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