Crítica: Lugares Escuros

Lugares-Escuros
A força da atriz: Pela segunda vez consecutiva, a vencedora do Oscar Charlize Theron consegue uma grande interpretação em 2015, desta vez por Lugares Estranhos.

Estrelado e co-produzido por Charlize Theron, Lugares Escuros é mais um suspense baseado em um romance da escritora Gillian Flynn, que ano passado roteirizou Garota Exemplar, um livro de sua autoria levado para os cinemas pelo diretor David Fincher. Lugares Escuros, por sua vez, é conduzido para as telonas pelo francês Gilles Paquet-Brenner, de filmes como A Chave de Sarah A Prisioneira, que, por sinal, também assina o roteiro do longa sozinho, ou seja, sem a participação de Flynn. O resultado pode não ser tão vibrante quanto aquele visto no filme de David Fincher em parceria com a autora, mas, ao menos, apresenta-se ao espectador como um suspense na maior parte do tempo instigante e maduro na construção dos seus personagens e na abordagem das suas principais  temáticas, entre elas o trauma e a sua superação.

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Relação delicada: Protagonista vivida por Charlize Theron convive com o trauma de ter seu irmão acusado de matar sua mãe e suas irmãs.

No longa, Charlize Theron, interpreta Libby Day, uma mulher que convive com o fantasma da violenta morte de sua família, testemunhada por ela quando criança. A culpa do crime recaiu sobre o seu irmão mais velho, Ben Day (Corey Stoll), que na época havia se relacionado com grupos de adoração a satã (algo que nos lembra a “família Manson”) e que, junto com Libby, foi o único sobrevivente do massacre. Procurada por uma sociedade que se reúnem para desvendar crimes complicados, Libby Day receberá uma considerável quantia em dinheiro para retornar o passado e confirmar ou não a culpa do irmão naquela noite traumática.

A condução de Gilles Paquet-Brenner não tem nenhum atrativo em especial, contudo o diretor não compromete Lugares Escuros com firulas estéticas. Paquet-Brenner é direto, objetivo e consegue um equilíbrio entre a carga dramática pesada e tensa da sua história com momentos introspectivos, nos quais voltamos nossas atenções para a personagem de Charlize Theron, principal atrativo da história. Theron, por sinal, é um dos pontos fortes do longa, conseguindo trazer, com muito segurança e sensibilidade, para a personalidade de Libby Day os efeitos do seu trauma. Nas mãos de Charlize, Libby é uma mulher desacreditada na humanidade, mas não chega a ser dura ou sisuda, a atriz consegue criar brechas que torna a superação do trauma crível e gradual. O filme também conta com Nicholas Hoult, que esteve ao lado de Charlize em Mad Max- Estrada da Fúria, mas que aqui tem muito pouco a fazer na pele do líder da sociedade que procura a protagonista, e Chloe Grace Moretz, uma escolha um tanto quanto óbvia na pele de uma garota-problema envolvida amorosamente com o irmão de Libby. Há também a ótima Christina Hendricks, intérprete da matriarca da família. Hendricks, por sinal, merece o título de co-protagonista do filme, já que a montagem do longa intercala os acontecimentos do passado e do presente da família Day, e a atriz ganha a empatia do espectador ao viver com doçura e dignidade Patty Day.

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Garota-problema: Chloe Grace Moretz repete um personagem que já viveu em outros trabalhos.

O maior problema de Lugares Escuros é que ele nos mantém durante boa parte da projeção interessados no desfecho da sua história – e o realizador é muito hábil ao contar paralelamente os acontecimentos que sucederam o crime e a investigação sobre ele empreendida no presente – , contudo, quando o longa chega ao fim, o seu encerramento do caso soa insatisfatório e até mesmo óbvio. Não chega a ser frustrante ou decepcionante, mas menos interessante do que o caminho que a sucessão de descobertas sobre o crime empreendidas por Libby Day traça para o espectador.