Longlegs

Crítica: Longlegs – Vínculo Mortal

2.5

Depois de estrear nos EUA sob muitos elogios da crítica, Longlegs: Vínculo Mortal chega ao Brasil. O filme de Osgood Perkins é aquele terror que deseja ser mais do que uma obra escapista, um adjetivo com muita frequência associado ao gênero. É esta relutância que evidencia o grande tropeço de Longlegs.

O longa é o quarto da carreira de Osgood Perkins (de Maria e João: O Conto das Bruxas e A Enviada do Mal) e tem como centro da sua narrativa a jornada de uma jovem policial interpretada por Maika Monroe (de Corrente do Mal). Ela está investigando as ações de um perigoso serial killer conhecido como Longlegs, vivido por um Nicolas Cage, irreconhecível por trás de quilos e mais quilos de maquiagem.

Aos poucos, a trama revela a conexão entre a policial e o psicopata e uma trama ainda mais sinistra por trás das mortes que o personagem de Cage deixa para trás. A conexão entre a investigadora e um psicopata faz Longlegs ser imediatamente associado a  O Silêncio dos Inocentes, clássico de 1991 de Jonathan Demme que venceu o Oscar de melhor filme. No entanto, Perkins tem maiores ambições. Com seus longos e elaborados planos, o diretor quer trazer uma linguagem mais “sofisticada” ao filme, afastando-o de uma suposta vulgaridade comumente associada ao cinema de horror, ainda que, no final das contas, Longlegs tenha uma forte filiação com o gênero com suas predileções temáticas (serial killers, a abordagem de uma seita satanista, possessões etc.), personagens psicologicamente perturbados e algumas cenas de violência gráfica. Contraditoriamente, há algo no filme que parece rejeitar o “vulgar” e é nesse traço que Perkins perde pontos com o público.

Não existe nada precisamente fora de lugar na execução do roteiro de Longlegs. Possivelmente, se o projeto fosse oferecido a outro diretor, o resultado seria superior.  De forma geral, Perkins consegue amarrar bem a sua história e desenvolver um perfil interessante para sua protagonista. A policial Lee Harker de Maika Monroe é gradualmente desconstruída aos olhos do público, saindo de uma condição fria e cerebral para uma situação de desequilíbrio e perturbação diante do horror representado pelas ações do Longlegs. Maika Monroe está ótima na construção dessa jornada sendo este um dos melhores desempenhos da sua carreira até aqui.

Longlegs

O grande problema de Longlegs é a ambição desmedida do seu cineasta, explicitada em uma direção que parece rejeitar qualquer tipo de simplicidade ao optar por um approach mais hermético que o necessário para uma história bem simples na sua essência. Osgood Perkins contrói um terror calcado no jogo psicológico estabelecido entre uma policial e um serial killer, mas o cineasta insiste na ideia de querer que seu filme seja algo que extrapola as delimitações mais escapistas sugeridas pelo seu gênero. Este tipo de tensão entre cineasta e sua obra geralmente não faz bem a qualquer projeto. Em Longlegs isso não seria diferente.

Ademais, é preciso frisar que a despeito de aparecer em poucas cenas no filme e utilizar o recurso da maquiagem para não impor a sua persona célebre, Nicolas Cage tem uma interpretação que parece querer sempre se destacar em Longlegs. Normalmente, a abordagem do ator tende ao overacting e aqui não seria diferente, porém Longlegs é um filme que em todas as suas pontas deseja uma aparência de terror low profile e tudo o que a interpretação do ator busca parece ir no sentido contrário. Cage surge sempre em um tom acima do próprio projeto, repleto de excessos de composição que só fazem o espectador se distrair daquilo que realmente importa na história, resultando em um vilão que, no fim das contas, distoa da própria pretensão do cineasta. Por esta linha de raciocínio, podemos até argumentar que o ator tenha mais sensibilidade para as demandas do gênero do que o seu próprio diretor. No entanto esse desencontro de abordagens escancarada pela interpretação de Cage só reforçam a dificuldade de comunicação de Longlegs.

Longlegs é um daqueles filmes cuja fama não corresponde ao que ele é de fato. Há sinais de um cineasta desejando a aprovação da crítica, proporcionando ao espectador uma experiência cansativa e, consequentemente, por vezes, pouco engajada, rígida na crença de que é algo superior ao que de fato apresenta. Longlegs é um projeto sabotado pelo próprio ego, sendo o típico caso da narrativa que se beneficiaria mais caso recebesse uma direção bem menos afetada do que aquela que Osgood Perkins aplica.

Direção: Oz Perkins

Elenco: Maika Monroe, Nicolas Cage, Blair Underwood

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