La Chimera é ambientado na década de 1980 e traz a história de Arthur, um arqueólogo inglês que retorna à zona rural da Toscana depois de passar um tempo em detenção. O personagem principal volta ao local tentando se recuperar moralmente do episódio e também superar um evento traumático envolvendo a namorada. Em meio a tantas atribulações pessoais, Arthur retoma perigosas atividades que exercia no passado e que lhe levaram para a cadeia, ele volta a atuar como caçador de relíquias, violando túmulos para vender esses artefatos no mercado ilegal.
O personagem principal do longa da italiana Alice Rohrwacher (de As Maravilhas) é o ator inglês Josh O’Connor, em ascensão desde que interpretou em 2019 o então príncipe Charles na série The Crown – em breve, ele também deverá ser visto no drama Rivais, com Zendaya. Além de O’Connor, cabe destacar em La Chimera a presença da veterana Isabella Rossellini e da brasileira Carol Duarte (A Vida Invisível), ambas com papéis de considerável destaque nessa história.
O título La Chimera nos remete à figura mitológica composta por membros de diversos animais, mas também à ideia de utopia ou de fabulação, fantasia. No longa, o personagem de O’Connor é um sujeito à deriva, realizando atividades que outrora faziam parte da sua vida, mas que hoje já não fazem mais sentido. Ele segue na pilhagem arqueológica em um mix de comodismo e de incerteza sobre os rumos que deve tomar na vida de agora adiante, prosseguindo no automático em funções do passado na esperança de recuperar algum resquício daquilo que tem saudade. Por inércia ou incapacidade de definir quais serão os rumos da sua vida, ele cede às requisições de terceiros pelos seus serviços e segue na clandestinidade, violando túmulos e roubando peças históricas valiosíssimas. O longa narra a jornada desse personagem tentando escapar da sua vocação, encurralado pela própria passividade e por um contexto histórico que parece frisar a decadência de uma civilização.
Alice Rohrwacher traz muita personalidade para sua direção, ainda que a originalidade na condução dessa história, por vezes, a transforme em um filme autoindulgente, ensimesmado no seu incessante exercício de estilo. Em alguns momentos, a originalidade das ideias da diretora são bem-vindas, em outros, nem tanto, dificulta a comunicação com o público. Entre os momentos positivos, podemos citar as passagens em que eventos e traços da personalidade de alguns personagens são descritos por canções de trovadores, fazendo La Chimera flertar com o gênero musical. Há também um ótimo momento em que a gangue liderada por Arthur é perseguida por policiais e toda a operação funciona como uma ação de uma comédia de filme mudo do início do século passado. No entanto, na maioria das vezes os esforços da realizadora travam a relação do público com a obra e impede o acesso do espectador à humanidade que parece pulsar nos seus personagens.
Se a direção de Rohrwacher oscila em alguns momentos, o mesmo não pode ser dito dos esforços do seu elenco principal. Josh O’Connor tem um ótimo momento como Arthur, construindo-o como um trapaceiro angustiado. Já Carol Duarte tem bastante destaque no longa como Itália, uma jovem brasileira que vive na casa da ex-sogra de Arthur (Rossellini), escondendo suas duas filhas. Em dado momento a jovem desenvolve uma relação especial com o antropólogo e a dinâmica que Duarte e O’Connor estabelece para o encontro entre seus personagens é bem singular. É nesses detalhes que a gente percebe como o trabalho atores do filme funciona como um chamamento para que Rohrwacher se concentre naquilo que de fato interessa em La Chimera, o seu fator humano. Infelizmente, vários desses chamamentos são ignorados e o longa se desencontra na própria personalidade que a realizadora procura imprimir a sua história.
Direção: Alice Rohrwacher
Elenco: Josh O’Connor, Carol Duarte, Isabella Rossellini, Vincenzo Nemolato, Alba Rohrwacher
Assista ao trailer!