Para qualquer fã de Jurassic Park sempre foi uma pena ver a criação de Steven Spielberg e do escritor Michael Crichton perdida em continuações que giravam em círculos, explorando ainda a ideia do retorno de pessoas à ilha que abrigou o mal sucedido parque dos dinossauros do milionário John Hammond (Richard Attenborough), atração que, por sinal, sequer chegou a ver a luz do dia após a desastrosa experiência pré-inaugural com alguns cientistas. O Mundo Perdido: Jurassic Park e Jurassic Park 3 eram filmes sustentados basicamente na ideia de que seres humanos correndo de dinossauros famintos proporcionava diversão, fazendo com que todas as pontuais discussões de Jurassic Park sobre os limites da descoberta científica através da manipulação genética e as possibilidades de expansão daquele universo nunca estivessem na ordem de preocupações das suas pautas criativas.
Ainda que não seja um ponto pacífico entre fãs e críticos, Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros de 2015 foi o primeiro filme derivado de Jurassic Park que realizou o que acabamos de mencionar. O filme de Colin Trevorrow revitalizou o parque, permitindo que, pela primeira vez o víssemos em “perfeito” funcionamento, trazendo de volta ainda questões relativas ao uso da ciência através do conflito em torno do híbrido Indominus Rex, a cobiça de homens gananciosos pelo feito genético (sempre eles) e o uso dos animais para fins que não fossem apenas o do entretenimento, como era o caso do interesse de militares pelos velociraptors treinados por Owen Grady (Chris Pratt). Claro que “humanos correndo de dinossauros” fazia parte do pacote, mas Jurassic World se esforçou bem mais que seus antecessores na busca por novos horizontes para aquele universo.
Jurassic World: Reino Ameaçado segue a mesma linha do filme de 2015 de Trevorrow, que agora assume a produção e passa a direção para o espanhol J. A. Bayona (de O Impossível e O Orfanato). Na história, Claire (Bryce Dallas Howard), a administradora do extinto Jurassic World, retorna à ilha Nublar agora como ativista ambiental interessada na preservação dos dinossauros ameaçados de extinção pela atividade de um vulcão prestes a entrar em erupção. Com a ajuda de um milionário, ela retorna ao local para levar algumas espécies a um santuário localizado em uma outra ilha, onde viveriam livre e supostamente isolados da presença humana. Como uma das espécies em questão é a velociraptor Blue, Claire chama o ex-namorado Owen Grady para a missão e parte para o local junto com alguns membros da sua ONG. Ao chegar na ilha, o grupo descobre que existe muito mais por trás da missão de resgate da qual participa.
Em Jurassic World: Reino Ameaçado algumas discussões são retomadas. Novamente estamos falando do uso de uma descoberta científica por homens que pela vaidade ou pelo dinheiro passam por cima da história de insucessos do parque e querem encontrar formas de seguirem explorando aqueles animais. O roteiro escrito pela dupla Colin Trevorrow e Derek Connolly segue investindo em novas possibilidades e o surgimento de uma ONG pró-dinossauros interessada em preservar os animais em um santuário é um ponto forte do filme, sobretudo porque traz novos elementos para Claire, que era da mesma equipe e veio da mesma experiência do Jurassic World do Dr. Henry Wu, mas que por culpa e relação afetiva com as criaturas e o legado de Hammond tem uma consciência maior a respeito do destino de Blue e das demais espécies capturadas.
Algo que marca presença nesta continuação de maneira mais intensa que no filme anterior é a relação do treinador Owen Grady interpretado pelo carismático Chris Pratt com a velociraptor Blue, invertendo, como em Jurassic World, toda uma lógica de afirmação da espécie em questão como uma perigosa ameaça para os personagens humanos, ainda que siga implacável como caçadora. Um dos principais vestígios de afeto da nova trilogia está nessa dinâmica estabelecida por Owen com Blue desde que ela era filhote. Aqui está inegavelmente o coração do filme.
Tudo o que apontamos é forte em Jurassic World: Reino Ameaçado. Contudo, um aspecto do longa a ser destacado desta vez é mesmo a presença de J. A. Bayona na direção. Quando Bayona foi contratado pelos produtores da continuação, um aspecto levantado por eles que justificaram a escolha foi a destreza com que o cineasta manipula elementos e estratégias do cinema de horror e como isso dialogava com a proposta de Spielberg em sequências de Jurassic Park que marcaram o público por proporcionar igual efeito, como o primeiro ataque do T-Rex ou o cerco empreendido pelos velociraptors nas dependências do parque. Com a criação de um novo dinossauro, o Indoraptor, ainda mais assustador em seu design que o Indominus Rex do longa anterior, o filme de Bayona cria momentos de muita tensão no longa, alguns deles visualmente exemplares que nos remetem a registros imagéticos típicos dos filmes de monstro, como a sequência na qual o personagem de Toby Jones apresenta o dinossauro preso numa jaula à plateia do leilão ou a perseguição do animal à garotinha Maisie Lockwood, investindo em elementos como sombras do animal ou a exposição da sua anatomia disforme.
É certo que, mais uma vez, a franquia adia algo que promete desde O Mundo Perdido: Jurassic Park de 1997, mostrar as consequências da convivência entre humanos e dinossauros no mesmo planeta sem as cercas eletrificadas do parque, algo que só surge aqui no último ato. No entanto, Jurassic World: Reino Ameaçado segue com os mesmos esforços do filme anterior, levando aquele universo para novos lugares, e garantindo muito entretenimento para a plateia com momentos carregados de tensão e senso de aventura sendo mais honesto em seus deslizes e acertos do que boa parte dos blockbusters que tem feito a cabeça da geração atual.
Assista ao trailer: