Crítica: Homem-Formiga

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Anti-herói: Paul Rudd vive Scott Lang, ex-detento que assume a identidade de Homem-Formiga no novo filme da Marvel Studios.

 

Não tem como retroceder. Depois que a Marvel encontrou o caminho para fisgar o público parece impossível que um projeto do estúdio resulte em fiasco comercial ou mesmo de crítica. A assinatura do jovem estúdio parece fácil de distinguir: os filmes seguem os passos da narrativa seriada da TV, não à toa em grande popularidade, com suas múltiplas referências a projetos do passado e do futuro e ganchos a serem solucionados em episódios seguintes, como é o caso de Os Vingadores e todos os títulos a ele vinculados; além disso, também apostam na veia pop de suas histórias, gerando tramas que não só humanizam seus super-herois, mas também conferem leveza através de uma certa metalimguagem com suas gags em torno de chavões do seu próprio universo fantástico, é o que Guardiões da Galáxia faz de maneira precisa e até mesmo singular dentro do que foi oferecido pelo estúdio até aqui.

Homem-Formiga segue as duas orientações que acabei de descrever e apesar de não ser tão singular quanto Guardiões da Galáxia ou Capitão América 2 – Soldado Invernal, é um filme mais divertido que os filmes da série Homem de Ferro, todos eles engolidos por um Robert Downey Jr. completamente fora de controle como Tony Stark, e menos desarmônico que Thor e sua continuação, por exemplo. Homem-Formiga conta a história de um ex-detento chamado Scott Lang (Paul Rudd) recrutado pelo Dr. Hank Pym (Michael Douglas) para proteger o experimento do Homem-Formiga de pessoas que têm o intuito de usá-lo com propósitos eticamente duvidosos. Scott Lang é escolhido para a missão por suas habilidades como ladrão já que para evitar o pior Pym terá que pôr em prática um perigoso plano de assalto que envolve o uso do traje do Homem-Formiga, uma roupa que permite a Lang diminuir sensivelmente o seu tamanho mas crescer em sua força .

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Ameaça: Hope Van Dyne (Evangeline Lilly) e Dr. Hank Pym (Michael Douglas) temem pelo que a invenção pode trazer ao mundo caso esteja nas mãos erradas.

 

Antes de cair nas mãos de Peyton Reed, diretor de comédias como Sim Senhor, Separados pelo Casamento e a interessante Abaixo o Amor, Homem-Formiga seria dirigido por Edgar Wright, de Scott Pilgrim contra o Mundo – o roteiro de Homem-Formiga, por sinal, tem a co-autoria de Wright. O que fez Wright ser substituído por Peyton Reed foi a velha desculpa da “diferença criativa” com a Marvel, o que nos leva a um ponto que não chega a ser um incomodo em Homem-Formiga a ponto de arruiná-lo, mas que evidencia uma política do próprio estúdio (ou habitualmente de todo estúdio, para ser bem sincero) : as decisões em um filme da Marvel são feitas pelos próprios executivos, não por um diretor que tenha uma visão particular sobre o universo dos seus personagens, pelo contrário, toda vez que existe uma interferência mais drástica esse sujeito é imediatamente limado.

Em alguns casos, eles acertam por seguir a cartilha ou, em casos ainda mais interessantes como os do sombrio e adulto Capitão América 2 – Soldado Invernal e do irreverente Guardiões da Galáxia, acertam por se contraporem a ela. Esse jeito de fazer cinema, no entanto, traz sempre o risco da concepção de filmes sem personalidade ou estranhamente deslocados, como se eles precisassem de um perspectiva bem diferente do que a Marvel tem para oferecer, é o caso de Thor, por exemplo, filme no qual fica evidente a falta de traquejo do estúdio ao lidar com um contexto peculiar, o da mitologia nórdica. O que desejo dizer é que isso não fez muita diferença em Homem-Formiga porque o tom do personagem se harmoniza com o o jeito tradicional da Marvel de fazer cinema, um cinema pop, leve, porém, humano. Peyton Reed no caso de Homem-Formiga não parece fazer muita diferença no processo, ele está mais para um executor de roteiro do que para um cineasta que venha imprimir uma narrativa própria. Aqui, a Marvel é quem dá as cartas e tudo se arranja perfeitamente bem. Homem-Formiga está mais para a falibilidade de um Homem-Aranha, um Star Lord ou um Tony Stark da vida do que para  a perfeição de um Thor e até mesmo do Capitão América, ainda que este último tenha rendido dois ótimos filmes no estúdio. É “juntar a fome com a vontade de comer”, um tipo de personagem que faz parte da própria tradição Marvel e que a distingue dos seus concorrentes. Então, no fim das contas, depois de tanto conflito, as coisas deram certo.

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Elenco: Carisma dos atores principais só favorecem o resultado de Homem-Formiga, que faz jus a todo o legado Marvel até aqui.

 

Homem-Formiga, portanto, acerta em cheio não só na condução de um espetáculo do entretenimento como introduz com muita habilidade no universo Marvel um personagem que adere com muita facilidade ao modo de leitura das dinâmicas das histórias do estúdio que “a essa altura do campeonato” já assimilamos muito bem. Ainda que careça de um pouco mais de atenção dentro da sua própria história, já que a história de Scott Lang rivaliza e, am alguns casos, sai perdendo espaço com a de outros personagens, Paul Rudd foi uma escolha certeira para interpretar o personagem principal de Homem-Formiga. Rudd tem muita facilidade em transitar pelos meandros de um personagem cheio de falhas humanas e que ganha a simpatia do público por esses atributos. Michael Douglas é eficiente como o primeiro Homem-Formiga, o Dr. Hank Pym, Michael Peña está hilário como um dos amigos de Lang e Evangeline Lilly está ótima e magnética na pele de Hope Van Dyne, vislumbrando um futuro ainda mais interessante na Marvel quando assumir de vez a identidade da Vespa.

Em suma, Homem-Formiga representa tudo o que a Marvel sabe fazer de melhor, um filme bem-humorado, humano, enfim, um entretenimento de primeira linha. Com o mérito de não ser um produto tão deslocado e enfadonho quanto Thor e Thor – Mundo Sombrio, mas também sem a ausência de compromisso e “freios” que fizeram de Guardiões da Galáxia um produto tão diferenciado no estúdio, Homem-Formiga é um filme correto e muito agradável, enfim, o que se espera de um bom blockbuster com a assinatura do estúdio de Stan Lee, inegavelmente a grande potência cinematográfica deste início de século.