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Crítica: Green Book – O Guia

Chega aos cinemas nesta quinta-feira, 24 de janeiro, o longa Green Book – O Guia. Indicado em cinco categorias no Oscar 2019, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator, o filme conta a história verídica de Tony, um descendente de italiano boa praça que vive de pequenos empregos para sustentar a esposa e os dois filhos. Racista e sem emprego, depois que a boate que trabalhava teve que fechar para reforma, ele se depara com uma oportunidade de ouro que paga bem. No entanto, seu chefe, o músico Don Shirley, é negro e ele terá que embarcar em uma viagem de dois meses na estrada.

Com uma notória relação com Conduzindo Miss Daisy (1989), Green Book – O Guia traz em si o diferencial de inversão de papéis. Enquanto o primeiro era uma senhora branca conduzida por um motorista negro (implícito aí a relação de subordinação), neste aqui o motorista é branco, interpretado por Viggo Mortensen, enquanto o chefe rico e bem posicionado é o negro, vivido por Mahershala Ali.

Mesmo com relutância, principalmente pelo fato de que terá que trabalhar diretamente com um negro e ser subordinado a ele, Tony aceita o emprego pela necessidade de dinheiro. Embora seja um tipo de “picareta do bem”, ele realmente se preocupa com a família e quer oferecer o melhor para ela. A medida que a trama evolui, vamos adentrando ainda mais na relação de amor entre Tony e a esposa, Dolores, interpretada por Linda Cardellini.

Tratando de um tema complicado como o racismo nos anos 1960 nos Estados Unidos, onde muitas regiões ainda obrigavam os negros a usar banheiros diferentes e se recusavam a hospedá-los em seus estabelecimentos, o filme consegue suavizar o clima através da desenvoltura do personagem Tony. Ele consegue dar leveza nas cenas e até mesmo em Don, que é sisudo e excessivamente sistemático.

A medida que a narrativa avança, vemos que Don Shirley vive muitas crises dentro de si. Ele é rico e da alta sociedade, mas é rejeitado por essa mesma sociedade pelo fato de ser negro. Embora ela crie uma fachada de aceitação, no fundo o racismo é o mesmo, só que velado. Por outro lado, a comunidade negra mais humilde e sem posses também não o aceita, já que falta identificação. Ele não sabe nem como se comportar perante os semelhantes.

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Vivendo neste limbo, ele vai aceitando a maioria dos comportamentos em uma clara necessidade de ser minimamente aceito em sua condição. Isso fica muito claro, inclusive, quando conta à Tony que gostaria de tocar Chopin, mas que acabou seguindo o caminho da música popular, porque os brancos não estavam preparados para aceitar um pianista negro tocando música clássica. Por isso então, era necessário criar aquele ar de “comédia” em torno da situação, para que fosse mais aceito e pudesse tocar livremente.

Ainda que o foco da narrativa seja o preconceito sofrido por Don ao longo da viagem, o protagonista de todos os momentos é Tony e sua relação com todas as situações em que se envolve. Ele vai aos poucos tendo que lidar com seu próprio preconceito e vendo de perto os problemas que Don sofre simplesmente pela cor de sua pele. Tudo aquilo vai mudando o comportamento de Tony, que vai se fidelizando cada vez mais ao chefe e o admirando.

Viggo Mortensen está completamente transformado no papel de Tony, de uma maneira nunca antes vista em sua carreira. Esqueça qualquer papel ou trejeito que já viu nele antes. Este é um personagem completamente novo e surpreendente. Cena após cena ele vai encantando o espectador com uma atuação incrível, que o torna um excelente candidato ao Oscar de Melhor Ator.

Com tons de humor, onde nos vemos rindo bastante com a quantidade de comida que o motorista come em contraposição com a falta de paciência do chefe em lidar com as situações, Green Book – O Guia consegue tratar do racismo de uma maneira leve e acertada. Entre um riso e outro, refletimos e nos emocionamos com essa trajetória tão envolvente e verdadeira dos personagens.

O diretor Peter Farrelly conseguiu dosar muito bem todas as emoções e trazer o espectador pra junto, neste que é o trabalho mais diferenciado de sua carreira (ele fez longas como O Amor é Cego e Debi & Lóide 2). Green Book – O Guia é, definitivamente, um forte concorrente ao Oscar pelo seu equilíbrio em todas as categorias e coerência do roteiro. Encantador, engraçado, reflexivo e emocionante. Vale a pena!

Assista ao trailer!