É curioso como em um pequeno espaço de tempo o público brasileiro teve acesso ao brasileiro Evidências do Amor (cinemas) e Grandes Hits (Star+), duas obras românticas que têm como premissa personagens que fazem uma viagem no tempo através da música, recurso de forte memória afetiva para seus protagonistas. No entanto, enquanto Evidências do Amor assume a rota da comédia romântica, Grandes Hits assume a “chave” do drama sobre o luto. Em Grandes Hits, o diretor Ned Benson optou por construir sua história pela ótica de uma protagonista que não consegue superar a morte trágica do namorado. Através da sua intensa conexão com a música, ela revive algumas memórias desse amor.
No longa, Harriet (Lucy Boynton, de Bohemian Rhapsody) conheceu Max (David Corenswet, o futuro Superman) em um festival de música e viveu com ele uma grande história de amor interrompida por um acidente de carro que o matou e fez a jovem atravessar um coma. Participando de grupos terapêuticos, Harriet conhece David (Justin H. Min, da série Treta), um rapaz que também está passando por um luto. Ela tenta se reconectar com a vida através desse novo relacionamento, mas ainda está presa ao passado através dessas viagens no tempo toda vez que escuta alguma música marcante na sua história com Max.
Grandes Hits sofre de problemas semelhantes que acometeram um trabalho conhecido de Ned Benson, Dois Lados do Amor, romance com Jessica Chastain e James McAvoy que pretendia contar uma história de amor a partir de duas perspectivas, uma da personagem feminina e outra do personagem masculino. Na prática, a ideia resultou em um filme não tão arrojado quanto aparentava. Grandes Hits tem um resultado parecido: grandes ambições quase nunca concretizadas.
No longa, Benson trabalha com a ideia de que a música, ao mesmo tempo em que pode nos transporta para memórias difíceis de lidar, pode curar e construir novas lembranças. Harriet revê o falecido Max a partir das canções que de alguma forma lhe trazem a lembrança do antigo amor e constrói um novo laço com David através de momentos mediados pela música. Isso não é explorado com tanta veemência pela história e parece estar mais na sua superfície, como algo que borbulha e clama para seu cineasta captar, mas ele acaba não conseguindo efetivamente trabalhar com muita densidade.
A superação do luto da protagonista também não é trabalhada com a complexidade que merecia pelo filme, que prefere ficar na zona de conforto de construções superficiais sobre a temática. O romance de Grandes Hits também sai perdendo quando aquele que deveria ser o casal principal e que mobilizaria maiores sentimentos no público, Boynton e Justin H. Min, não consegue comover o espectador a ponto de rivalizar com a forte química que a atriz exibe quando contracena com David Corenswet. Isso cria um problema considerável no engajamento do espectador com aquela história de amor que deveria inspirar a superação da sua protagonista.
Em mais uma empreitada nas telas, Ned Benson demonstra ser um realizador com ótimas intenções, mas que infelizmente não consegue executar suas ideias na mesma vibração das expectativas que elas geram no espectador. Grandes Hits tem a sensibilidade para estar atento aos caminhos que sua história deve percorrer, mas parece não saber muito bem o que fazer com tantos insights interessantes sobre luto, música e memórias, os grandes motes da sua trama.
Direção: Ned Benson
Elenco: Lucy Boynton, David Corenswet, Retta, Justin H. Min, Nelly Furtado, Jackson Kelly
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