Fortaleza Hotel

Crítica: Fortaleza Hotel

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Depois da repercussão de Greta, drama protagonizado por Marco Nanini em 2019, o cineasta cearense Armando Praça entrega para o público uma história protagonizada por duas mulheres. A premissa de Fortaleza Hotel traz para o centro do seu drama Pilar, camareira vivida por Clebia Sousa, e Shin, papel de Yeong-ran Lee, hóspede do hotel onde a primeira trabalha. Shin chega da Seul para levar o corpo do seu marido recém-falecido no Brasil, enquanto Pilar está nos seus últimos dias de serviço, já que está com viagem marcada para Dublin, mas é surpreendida por uma notícia envolvendo a filha. A ideia de Praça com Fortaleza Hotel é cruzar a trajetória dessas duas personagens que vivem em momentos e contextos distintos, mas têm em comum o desejo de viver uma realidade diferente.

Greta tinha como mérito a atuação de Marco Nanini, que entregava uma personagem nuançada, mesmo quando o filme não fazia muito por ele. Em Fortaleza Hotel, Armando Praça, que agora conta com o roteiro de Isadora Rodrigues e Pedro Cândido, tem uma história mais bem amarrada, cujo traço central é a intensificação gradual do drama das duas personagens ao mesmo tempo que consegue estabelecer bem as bases da relação entre elas entre distinções e semelhanças. Enquanto Pilar vive uma situação limítrofe com o envolvimento de sua filha com criminosos, se colocando disposta a tudo para salvá-la e se mudar de vez para Dublin, isso significando se prostituir e cometer um crime, Shin assimila a frustração do seu plano de sair da Coreia rumo ao Brasil dar errado com a morte repentina do esposo.

O acerto do roteiro nessa construção inicial permite que as atrizes Clebia Sousa e Yeong-ran Lee tenham ótimos momentos. Sousa interpreta Pilar como uma mulher cheia de dignidade, mas toma algumas atitudes ao longo da história contrariando os seus próprios valores. É perceptível no trabalho da atriz a luta da sua personagem contra a sua própria índole e como ela entra em conflito com isso. Já Yeong-ran Lee sustenta o luto, a sensação de estafa e desnorteamento de uma mulher em terra estrangeira.

Fortaleza Hotel

Os momentos em que as atrizes compartilham o mesmo quadro são especiais para o filme, destacando a cena na qual uma ensina para a outra músicas típicas de seus países, algo que destaca no longa o breve apagamento entre as fronteiras culturais, mas também a disposição de partilha naquela situação. É interessante também como nesses momentos de partilha o longa acerta não só na condução da atuação da dupla principal mas do ponto de vista plástico, trazendo sempre na sua fotografia um jogo interessante e simbólico entre as cores rosa e azul.

É uma pena que o desfecho de Fortaleza Hotel não corresponda ao seu desenvolvimento e entregue lacunas em excesso para o espectador. A história de Pilar é encerrada satisfatoriamente, fica perceptível os ciclos que se abrem e se encerram na jornada da personagem, mas a trajetória de Shin fica à deriva, deixando no espectador a sensação de que há um desenvolvimento desigual na história das suas duas figuras centrais. Infelizmente é um longa que deixa o resquício da frustração no público. Sobretudo por ter entregue tanto por tanto tempo.

Direção: Armando Praça

Elenco: Clébia Sousa, Lee Young-Lan, Larissa Góes, Demick Lopes, Ana Marlene, Vanderlei Bernardino, Andrea Piol, João Fontenele, Raphael Souma, Jane Azeredo, Katiana Monteiro, Natasha Faria, Layla Sáh, Fabíola Líper, Tayana Tavares, Ícaro Eloi, Jéssica Teixeira, Yuri Yamamoto

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