Flora e Filho - Música em Família

Crítica: Flora e Filho – Música em Família

3.5

Responsável por filmes como Apenas uma Vez, Mesmo se nada der certo e Sing Street, o irlandês John Carney sabe como aliar suas tramas à música. Seus filmes são sempre obras singelas, que conseguem proporcionar conforto e “aquecer o coração” do espectador, tornando a experiência de assisti-los e de conviver com seus personagens afetivamente recompensadora. Flora e Filho – Música em Família não seria diferente.

O mais recente trabalho de Carney traz como protagonista uma jovem que se torna mãe muito cedo na vida aos 17 anos. Apesar de compartilhar a guarda do filho com o pai e ter com ele uma relação amistosa, todo o trabalho duro fica sob a responsabilidade dela. Flora deixou para trás uma série de sonhos e expectativas da juventude, atendendo a demandas mecânicas da sobrevivência (trabalhar, cuidar da casa, dar suporte ao filho Max etc.). As coisas mudam quando a personagem passa a ter aulas online via vídeo-chamada com um professor de violão dos EUA, uma experiência que lhe dá uma injeção de ânimo.

Em Flora e Filho, Carney fala de uma juventude cujas perspectivas foram castradas pela responsabilidade que tiveram que arcar muito cedo. A relação entre Flora e o filho Max é bem interessante. A dinâmica entre os personagens é mais próxima daquela que se estabelece na maioria das vezes entre irmãos e não são típicas daquelas que percebemos entre mães e filhos: eles se implicam o tempo todo e exibem até mesmo uma aspereza no tratamento, que, nesse caso, jamais pode ser sinônimo de falta de afeto. A questão é que a maternidade em Flora e Filho está longe de corresponder a visões romantizadas sobre o tema, a protagonista ama o filho, é evidente, mas o garoto não deixa de ser uma espécie de atestado dos pontos mais problemáticos da sua vida, uma lembrança de que talvez algo não tenha dado muito certo no meio do caminho.

Flora e Filho - Música em Família

A música surge na vida de Flora e, por tabela, do seu filho, como uma espécie de restaurador de elos, recobrando uma humanidade e esperança sempre ameaçadas de se dissolver pelas provas de resistência diárias da vida. É muito sensível a maneira como Carney insere a música em suas tramas e aqui não seria diferente. A expressão artística em Flora e Filho resgata os seus personagens não para oferecer qualquer jornada de fama e sucesso na indústria do entretenimento, mas no significado elementar da arte em nossas vidas: ela é elemento de socialização, de humanização, agregador e até um recurso para nos reconectarmos conosco. No caso de Flora e Max, a música fortalece laços de afeto sempre testados, mas nunca rompidos.

A sensibilidade de Carney para tratar esse tema já torna Flora e Filho um filme que merece a atenção do espectador. O diretor conduz tudo de maneira extremamente delicada, sem apelar para o dramalhão fácil, mas construindo personagens carismáticos e admiráveis através de atores que conseguem sustentar esse aproach do diretor, da protagonista Eve Hewson ao menino Orén Kinlan, passando ainda por Jack Reynor que interpreta o ex de Flora e pai da Max até Joseph Gordon-Levitt que vive o professor de música.

Direção: John Carney

Elenco: Eve Hewson, Joseph Gordon-Levitt, Orén Kinlan

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